quinta-feira, 28 de março de 2019

Ente ultrajado


Nas representações de Alexandre Beck, à criança branca não era evidente a necessidade de carregar sempre notas fiscais que lhe certificasse a posse. Para ela também não fazia sentido que “apostar corrida” poderia ser algo arriscado. As coisas não eram claras a ela. Como concordaria Descartes, que a razão é igual em todos os homens, mas em concepções baconianas, cada cova a qual molda a luz que chega aos olhos humanos, é diferente- as personagens eram dotadas da mesma razão, mas haviam exigências diferentes.
A discriminação racial, o estado de estar sob constante suspeita e a violência policial, aspectos evidenciados nas tirinhas, compõem a realidade de uma população bem especifica, a população negra, brasileira ou não. Uma vez padecidos estes aspectos, o entendimento formado por uma personagem negra e seu comportamento, consequentemente, adquirem traços divergentes dos adquiridos por uma pessoa branca. As diversas experiências e o racismo institucionalizado, geram noções de realidades desconformes.
Aquilo que repercute uma incongruência aos entes brancos, é ordinário ao cotidiano negro, mutuamente- “a História aprendida na escola é a história do meu povo” é uma sentença que não pode ser exclamada por quaisquer- reforçando as questões empíricas como cambiante havendo prismas diferentes. Porém, a normatização que existe acerca desta realidade desigual é inconcebível. A discriminação racial não se trata apenas sobre realidades diferentes, atinge proporções maiores do que uma discussão sobre pluralidade, uma vez que fundamenta danos morais, à saúde física e mental de quem convive diariamente com.
Mesmo que a  Constituição Federal de 1988, garanta os Direitos e Garantias Fundamentais tais como o direito à vida e à liberdade, a criança negra da ilustração não teve a liberdade para brincar de apostar corrida, reprimida presença policial – e a situação assume uma perspectiva mais truculenta quando há casos como o de Pedro Henrique Gonzaga, que pela cor não teve direito a liberdade e nem mesmo a vida. São demasiados os indícios de que os direitos são aplicados obedecendo uma jurisdição de cor.
Uma sociedade tão refém de seus ídolos da caverna e do teatro- que toma conceitos individuais como coletivo e regulariza filosofias infundadas-, nunca poderá ser a mínimo justa. Em seu livro “Novum Organum”, o filosofo Francis Bacon, assume que formação de noções pela indução é o remédio apropriado para afastar e repelir os ídolos, mas quando o racismo é normatizado e não reconhecido como, tanto o empirismo baconiano quanto o racionalismo cartesiano são ignorados e são repetidas todas as mesmas inumanidades e injustiças dos séculos passados.




Amanda Cristina da Silva - 1º Ano Direito Noturno

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