terça-feira, 21 de novembro de 2017

A Gaiola da Ignorância

Albert Szent-Györgyi, fisiologista e Nobel de medicina Húngaro, discorre em uma de suas publicações (The Crazy Ape, 1970) acerca do zeitgeist – “espírito do tempo” na obra do alemão Georg Hegel –, dando-lhe uma conceituação peculiar: o zeitgeist nada mais é que uma “gaiola” a qual impede o progresso real das comunidades humanas. Estas, trancafiadas dentro das jaulas de suas próprias convicções e conformações culturais, veem-se inertes às mais fulcrais mudanças nos tempos.
Não se trata, todavia, de uma perspectiva pessimista. Szent-Györgyi, mostra-nos que não é a destruição utópica da jaula da ignorância que permite o avanço, mas sim seu simples deslocamento mais adiante na irrefreável evolução humana. Consiste, destarte, de um movimento paulatino, constante, não abrupto; com efeito, a passos curtos e incessantes de indivíduos e grupos, alinhados em um mesmo sentido.
Com efeito, Axel Honneth introduz o reconhecimento social, a emancipação do indivíduo, como um evento não abrupto, senão cumulativo, constante. Alinha-se, portanto, à concepção de zeitgeist do Nobel húngaro, que nos provém, por fim, com a certeza de que a luta social ininterrupta pelo reconhecimento e pela isonomia real é, de fato, a fagulha para a mudança concreta.
Paralelamente, a decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2011, de reconhecer direito à união homoafetiva é suspiro, ainda que abafado em meio a tanto ódio e descompasso, de justiça progressiva e emancipatória, no sentido da igualdade e da tolerância na sociedade brasileira. A emancipação não é, como supracitado, instantânea, tampouco intensa, mas composta de luta, de coragem e de união. Trata-se de um passo dentre vários da comunidade LGBTQ em direção ao reconhecimento de seus direitos.

A gaiola da ignorância invisível, tangente aos preceitos de gênero e sexualidade, passa a deslocar-se, permitindo a consolidação de décadas de união popular. O fim do desrespeito ao indivíduo de que trata Honneth depende da continuidade e fortalecimento de medidas direcionadas ao progresso, à superação da jaula vigente. Ao zeitgeist não se deve conceder o triunfo nem se deve promover a destruição: do zeitgeist devemos emancipar-nos.

Fernando Melo Gama Peres. 
1º ano - Noturno. 

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