segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Emancipação racial

Na sociedade contemporânea em que reside o Direito, Boaventura parte da opinião que o Direito atua como instrumento de transformação e mudança social. Ainda que parte da sociedade veja o Direito com uma visão conservadora – como manutenção da ordem – a visão de Boaventura pode ser muito incorporada com nossa sociedade atual. Nessa conjectura, uma das analises a que permite tais teorias reside no julgado das cotas raciais. Tema que ainda é causa de muitas polemicas no Brasil, foi decidido como favorável.  Apesar disso, o preconceito existente por parte de uma parte concomitante do meio social resiste a essa mudança e continua preservando a “igualdade” de direitos e a eliminação de cotas.
                A violência no Brasil aumenta a cada dia. No entanto, ela aumenta para um tipo especifico da sociedade: homens, jovens, negros e com baixa escolaridade, como mostra o gráfico abaixo. Assim como afirma Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea, “há, no Brasil, uma licença para matar, desde que isso aconteça fora das áreas nobres”.


Fazendo uma analise rápida desse resultado pesquisado, como podemos plantar um discurso meritocrático quando apenas um tipo específico sofre com as mazelas sociais? Como cobrar de uma classe que não reside de oportunidades de crescimento que ela cresça, sem nem mesmo o principio fundamental do direito, disposto no art. 5º da nossa tão prezada Constituição de 1988, que expressa à vida como direito fundamental do homem?
                A grande questão fundamenta-se em torno de um ponto primordial a esses resultados: a educação. A educação que não chega a áreas mais afastadas, e tal como diz Samira Bueno, diretora executiva do FBSP, "Isso tem a ver com a falta de investimentos em outras áreas. Quanto mais anos de escolaridade, menor é a chance de homicídio. O Rio de Janeiro é exemplo disso com a política de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). A polícia subiu os morros sozinha, então não deu certo". Sobre isso, Boaventura, ainda que tenha vivido no século XX, afirma algo que pode ser constatado ainda hoje como o principal problema de nosso meio, e que se relaciona a essa marginalização e descaso, tal como: “Nestas circunstancias, o Estado deve garantir, não apenas uma igualdade de oportunidade aos diferentes projetos de institucionalização democrática, mas também – e aqui reside o segundo principio da experimentação politica – padrões básicos de inclusão, sem os quais a cidadania ativa necessária a observação, verificação e avaliação do desempenho dos projetos alternativos há de se revelar inviável. O novo Estado-providencia é um Estado experimental, e a experimentação permanente conseguida através da participação ativa dos cidadão é o garante da sustentabilidade do bem-estar.” Desse modo, a discussão das cotas raciais torna-se nitidamente plausível aos olhos do autor, vez que o mesmo fala sobre a garantia de igualdade que deve haver perante a sociedade no Estado democrático. Ainda que ao primeiro momento as cotas pareçam uma politica de favorecimento em detrimento de outros, devemos nos atentar principalmente a defasagem que surge em relação aos cidadãos negros nas garantias mais fundamentais e básicas no nosso país, e que é mascarado muitas vezes pelo próprio Direito com leis que afirmam a igualdade, mas que não a garantem, definindo a própria Constituição, como diz Kelsen, apenas como um pedaço de papel normativo.
                Raças humanas podem ser definidas como verdade cientifica, mas não são plausíveis de segregação, exclusão e - diversas vezes - de genocídio. O racismo é um crime contra a humanidade que não encontra justificativa, e que, como mostrado acima, continua a ocorrer. Infelizmente, a sociedade continua fechando os olhos para esse tipo de situação, ainda que favoreça os negros em pontos como cotas raciais. É no ódio que continua a aumentar que a máquina social mostra o incomodo que a conquista de espaço dos negros causa. E isso pode ser encarado como forma de luta cada vez mais intensa, para que consequentemente, essa maioria de brasileiros consiga encontrar seu espaço, assim como Boaventura defendia.
Michelle Fialkoski Mendes dos Santos – 1º ano Direito Matutino
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