quinta-feira, 21 de setembro de 2017

SENSATEZ E REALIDADE NO PENSAMENTO WEBERIANO

        Dentre os cognominados “clássicos da sociologia”, Max Weber apresenta caracteres peculiares tanto em relação a Marx quanto a Durkheim. Partindo-se de uma perspectiva geral apercebe-se que, se de um lado Marx tinha o elemento de reduzir a análise da sociedade humana às relações econômicas, Durkheim aprofundou-se em aspectos mais amplos para a análise da sociedade. Weber aparece entre ambos com sua singularidade: é responsável por uma apreciação crítica mais pragmática, sensata e realista do que a de Marx quando da análise da sociedade como um todo, sendo, de certo modo, reducionista quanto a questões mais particulares como se pretende aqui mostrar correlacionando-se com a realidade histórica e hodierna.
      Contrariamente à visão marxista, Weber não teve sua visão conspurcada por uma análise sociológica puramente materialista. Seu conceito lato de ação social viabiliza uma série de interpretações a se atingirem acerca da realidade e, com o viso de tornar mais aprofundada sua análise, subdividiu a conceituação de ação social em quatro tipos específicos de cujo realismo é difícil duvidar-se. A iniciar-se pela chamada ação social com relação a um valor, ora, são numerosos os exemplos de ações que poderiam considerar-se, a partir apenas dos instintos humanos, irracionais, mas que, na verdade, tornam-se concretas pela carga valorativa de que são imbuídas. Vide o exemplo dos kamikazes durante a Segunda Grande Guerra, ou então, o fenômeno mais recente amalgamado com o fundamentalismo islâmico de homens-bomba ou ainda de quaisquer soldados que vão às guerras voluntariamente na defesa de seus países ou de suas convicções, vejam-se os cruzados ou mesmo os pracinhas brasileiros. Ademais, tem-se a ação social afetiva, fenômeno historicamente encontrado com recorrência, lembre-se do caso de Inês de Castro descrito por Camões em “Os Lusíadas”, no qual o rei português Dom Pedro I para vingar a morte de sua amada torna-a rainha depois de morta. Outro exemplo foi o caso do assassinato da socialite Ângela Diniz em marcante crime passional no ano de 1976 revelando como as noções de Weber permaneceram presentes no decorrer da história.
       Assim também a ação tradicional possui embasamento na realidade, factualmente se vê que os costumes de um país permanecem fortemente arraigados tornando-se mesmo convenções. O costume de noivas se casarem de branco é demonstrativo disso, não há nem em regulamentos religiosos ou civis obrigação para isso, no entanto a força com que se impelem as pessoas nesse sentido subsiste. Por fim, há a ação social racional com um objetivo; vê-se que comumente os indivíduos recorrem àquilo que mais lhes parece facilitar seus procedimentos vitais, assim como hoje existem recursos que se podem impetrar nos tribunais contestando sentenças judiciais, foi possível em outras épocas que se pedisse clemência ao soberano, em vista da racionalidade do ato, ninguém iria de pronto recorrer àquilo que não lhe concedesse maiores resultados e não mantivesse sua existência da forma mais viável possível.
      Como se vê as relações entre o sentido da ação e o agente são muito evidentes nessa subdivisão weberiana. Ocorre que, por vezes, Weber fosse mais apegado a certo “reducionismo”. Seus argumentos em prol da ideia de que o protestantismo teria impulsionado o “espírito do capitalismo” podem ser considerados no sentido de que os grupos protestantes teriam engendrado uma perspectiva menos opositora às questões mundanas. De fato, observa-se que o protestantismo foi um dos primeiros passos, ainda que se tratasse de um movimento religioso, de dessacralização da mentalidade que advinha da Idade Média o que seria um contributo no desenvolvimento econômico. Entretanto, a visão parece um tanto quanto inobservável quando comparada à realidade social presente, pois países em que prepondera o Catolicismo como Irlanda, Bélgica e França ou países de religião oriental como o Japão estão entre os considerados mais desenvolvidos no quesito econômico atual. Pode-se arguir que o espírito protestante teria penetrado nesses países, mas o que se observa mesmo é uma série de outros fatores que não se resumem a essa visão de mundo. A França, por exemplo, teve o ápice de seu desenvolvimento mercantil sob o período do antigo regime. Weber como se verifica possui um pensamento cujas nuances devem considerar-se para análise de sua obra, não se devendo, claro, desqualificar seus contributos para o pensamento moderno e sua posição de um dos sustentáculos da sociologia.


Gustavo de Oliveira- 1º ano noturno

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