domingo, 20 de agosto de 2017

Um texto autobiográfico demais para ser considerado acadêmico

Perdoe-me pela falta de rigor acadêmico deste texto. Descartes e Bacon, até mesmo o próprio Durkhein reviram-se em suas respectivas covas; porém eu simplesmente não consigo tratar esta ferida aberta com frieza e imparcialidade.
“Você não exerce o papel que a sociedade acha que você deveria exercer. E isso causa dois tipos de reações nas pessoas: ou elas te amam e te acham maravilhosa, ou elas te odeiam porque você as incomoda.”
Há algumas semanas atrás ouvi isso do meu melhor amigo. E confesso que, enquanto me arrumo para a festa de quinta feira, essa frase ecoa em minha mente. Eu, que não me encaixo nem um pouco nos padrões de beleza, ainda tenho a audácia de me maquiar. De colocar uma roupa diferente, mais estilosa. Passar batom escuro, pintar o cabelo de azul e colocar piercing no nariz. Sentir-me bonita, não ter medo de conversar com os outros, ser extrovertida, recusar o papel de coadjuvante que me é imposto. Não ter medo de chamar a atenção.
Você não é bonita o suficiente pra ele.
Entretanto, a luta não está totalmente ganha- talvez ela nunca esteja. Eu adoro fingir que tudo melhorou; que eu não sou mais aquela garotinha insegura que detestava se olhar no espelho. Mas talvez minhas inseguranças só estejam disfarçadas. Meus demônios nunca foram embora, eles sequer tiraram férias.
Sabe que ele é ex da fulana, não sabe? Ela é tão linda. E loira. E magra.
Por tanto tempo eu fui ensinada a não gostar de mim. A evitar qualquer superfície espelhada, assim como roupas claras e carboidratos. Que meu rosto era bonito, meu cabelo também. Tantos anos de desconforto, de vergonha, de raiva com meu corpo. Inúmeras crises de choro.
Ele pode até ficar com você, mas vai rir disso quando estiver com os amigos e falar que estava muito bêbado.
Criar amor próprio é o maior ato de resistência em uma situação dessas. Mas não é nem um pouco fácil. Essas vozes que me xingam, me depreciam... São tão fortes, tão ensurdecedoras. Elas nunca tiram folga, mas eu continuo tapando meus ouvidos com força.
Imagine só conhecer a família dele! O que eles vão pensar de você? Já consigo até ouvir os comentários...

E toda a minha força surte efeito. Depois de anos, eu finalmente consigo falar sobre as minhas inseguranças de modo aberto e para quem quiser ouvir – tanto que estou falando sobre elas em um texto que estará disponível publicamente. E o faço sem nenhum tipo de pudor pelo simples fato de que todos nós possuímos demônios de estimação de variados tipos, tamanhos, cores e espécies que nos acompanham desde a infância. Eu simplesmente estou expondo o meu e, ao fazer isso, matando-o um pouquinho mais. 

Lara Estrela Balbo Silva
1º ano - Direito Noturno

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