segunda-feira, 14 de agosto de 2017

RESPOSTA DE AUGUSTO COMTE A LIBITINO DILIGEU

Algum lugar, 14 de agosto

 

  Caro amigo Libitino Diligeu,
  Começo minha carta agradecendo-vos! Em verdade, não repartistes os louros do Discidt comigo, mas, por conseguinte, também não repartistes a vergonha de, na tentativa de maximizar a lógica positiva, ter, a partir do positivismo, criado sua própria cova.
  Para que entendais minha resignação, tens, primeiro, que entender os motivos pelos quais, em tão longínquos tempos, cheguei a conclusão de que a ciência era o único instrumento de desenvolvimento humano: o contexto histórico em que vivi foi marcado por "anarquias" e "desordem", regimes despóticos e revoluções. Tais acontecimentos levaram meus contemporâneos a uma insatisfação com a política em geral, chegando a beirar a descrença. Tinha-se, então, uma crise de valore.
  Daí origina-se minha ideia de que as anomalias deveriam ser eliminadas e, consequentemente, eliminar-se-ia também a desordem e, dessa forma, a sociedade poderia livremente caminhar para o progresso.
  Entretanto, ao longo dos séculos, conversando com pessoas com crenças diferentes, percebi que é justamente na desordem que se atinge o ápice do desenvolvimento. A contraposição de ideais, perspectivas e realidades força o ser humano ao seu limite. Força-o a se questionar se aquilo que acredita é realmente correto, força-o a investigar, força-o a progredir.
  Minha teoria, jovem aprendiz, não fora ao todo inútil. Apesar de ter falhado em vários pontos, por um jogo de interesses regido pela ganância e o egoísmo, observo que, ainda no seu tempo, minha sociologia é adotada como um dos principais pilares do corpo social. A sociedade industrial, ainda sim, é muito ligada à ideia de que o único conhecimento válido é o científico e o único desenvolvimento válido é o tecnológico. Assim sendo, vai-se rotulando certos grupos e comportamento como anormais, forçando-os a se encaixarem nos padrões, evitando conflitos...
  Sinto muito não poder ajudar-vos. O trabalho de nossas vidas, resulta, no final das contas, em uma grande inverdade. Inverdade essa que, ironicamente, é a base do tão avançado e científico pensamento positivista.
Atenciosamente,

Augusto Comte
Gabriel Chiusoli Ruscito - Direito 1° ano, noturno

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