segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O equilíbrio da muralha depende da frieza de suas rochas.

Todos nós viemos ao mundo chorando. Na verdade, a primeira preocupação dos pais é ouvir seu bebê chorar, é o sinal de que está tudo bem.

A cada ano que se passava, um certo garoto chorava menos. Não porque deixava de sentir fome ou medo, ainda sentia tudo isso, mas porque, nele, a sociedade formava um Homem.

A primeira vez foi alta e clara. “Engole o choro!”, ordenou-lhe seu pai. Ordem dada foi ordem acatada, mas não havia nada de espontâneo naquilo.

Desde então, as ideias não pararam de chegar. Cada membro de sua família contribuía com uma frase pronta: “Seja homem!”, “você deve honrar seu sobrenome, seja um Rocha, garoto!”, “homem não chora!”. Quando ficou longe dos familiares, imaginou que poderia desabafar, de forma alguma esperava aquela reação de pessoas desconhecidas: “olha, se fazendo de vítima!”, “quanta frescura!”, “falta de couro, cadê o pai dessa desgraça?!”  Percebeu, ali, que nenhum homem podia chorar naquela sociedade, porque a energia social é pólvora, você não quer provocá-la.  Aos poucos, as regras eram interiorizadas pelo rapaz como um bando de malditas cracas que se agarram a um navio até deformá-lo. Assim, na adolescência, aquele Rocha já era pedra no agir, pensar e, principalmente, sentir. Tudo isso serviu pra muita coisa, sim: deixou o pai orgulhoso, transmitiu segurança para algumas mulheres, etc.

Porém, olhos apáticos e atentos percebem que a real causa para que se reprima os sentimentos de um garoto é outra, e estava no meio social interno, vinha da hipervalorização da masculinidade, herdada do machismo e do patriarcado.

Fez-se Rocha para ser base de sua família, de forma que mãe e pai tiveram um filho. O homem tinha a mais iludida certeza de que elaborava diretrizes as quais garantiriam o futuro de seu menino, porém, apenas transmitia o que estava incrustado em sua mente, dava continuidade ao fato social. Da mesma maneira que sempre haveria alguém que reprimisse o natural, reprimisse os sentimentos: “homem não chora!”. Ainda bem que os homens não têm essa frescura de “depressão”... né?!

Diogenes Spineli Soares Filho, 1º Ano, Direito Noturno.

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