domingo, 6 de agosto de 2017

O conto de Akangatu

  Creio que neste dia, Akangatu estava novamente isolado de sua tribo, pesquisando sobre diferentes espécies de plantas e animais como sempre fez. Akangatu sempre foi um descobridor. Não é uma pessoa social nata, por isso convive na tribo Angá somente pelos laços que contém com sua mãe, por mais que tenha idade o suficiente para sobreviver sozinho. 

  Neste dia, como qualquer outro, saiu para a selva densa e distante para dar continuidade com sua pesquisa. Mas, por um momento, notou algo de diferente em um aracambé, ou cachorro-do-mato, parecia estar cansado mas além disso, estava com manchas pretas, parecia ser uma pelagem diferenciada, aquilo o intrigou porém,  deu continuidade a sua jornada. 

  Na mesma semana, Akangatu retornou ao local, e percebeu que aquele mesmo cachorro estava com as manchas maiores. Não só maiores como tomaram dominância na pelagem do animal, restando apenas listras da coloração antiga. Além disso, aparentemente o aracambé mal conseguia se levantar. Preocupado, o jovem levou o bicho para sua biboca, um espaço humilde que utilizava para experimentos e como refúgio, e lá o deixou por duas noites com comida.

  Ao retornar a sua biboca, o animal estava morto, e as plantas que estavam no local, para fins científicos, apresentavam pintas pretas e estavam também menos coradas que o normal. Fato que ele não percebeu na floresta. Assim, Akangatu concluiu que havia uma nova doença se espalhando pela selva, porém, por alguma razão, não atingia ele, então provavelmente não atingia os humanos.

  Duas semanas se passaram, e a doença cada vez mais se espalhava e estava chegando nos arredores da aldeia, porém, era difícil de ser notada, pois para a aparição da coloração preta, precisava-se de muitos dias, e a parte morta da floresta estava muito distante da população. Mesmo assim, o preocupado indígena foi avisar a sua tribo do que poderia vir futuramente.

  Ele foi falar diretamente com o chefe da tribo, Caetê, um velho guerreiro e fiel à aldeia. Disse que uma doença terrível estaria chegando e afetaria a caça e a colheita daquele lugar. Tirou uma folha do cesto que carregava e mostrou as manchas pretas. O velho não acreditou, disse que Tupã, um de seus Deuses, os avisaria de tal caos, e naquela tribo acreditava-se que os Deuses sempre se comunicariam com os anciões caso algo de ruim acontecesse. Desesperado pela aprovação de Caetê, o jovem consegue provar que a doença é contagiosa entre a flora, mas mesmo assim, o velho não acreditou, disse que ele estaria usando uma espécie de magia e o expulsou da aldeia.

  E a profecia do entitulado “mágico” aconteceu após uma semana. O ambiente estava cercado por árvores pretas e animais mal apareciam naquele lugar. Assim, a tribo foi forçada a se deslocar. 

  Muitos morreram de fome até aquele povo desiludido achar um local digno de vivência, e lá eles aprenderam a nunca mais ignorar uma verdade que foi provada. E o jovem Akangatu felizmente foi acolhido por outro povo, o qual o respeitava. 

Esse conto foi feito para explicar os falsos ídolos de Bacon, uma das bases epistemológicas da ciência moderna.

Rodrigo Tinel Guerra, 1ºAno, Diurno

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