domingo, 6 de agosto de 2017

Jesuítas, Japão e cinema
2017

Higor Caike Jordão Zanzarini
1º ano – Direito
Turno: noturno
            A despeito da divergência que existiu entre as correntes de pensamento empirista, da qual Francis Bacon era adepto, e racionalista, com o qual René Descartes se identificava, é possível indicar em ambos alguns elementos em comum, tal como pode ser constatado com a análise dos textos em questão. Essencialmente, apesar de suas discordâncias, a finalidade de ambas as correntes era a mesma: produzir um saber científico seguro, livre de elementos que o poderiam prejudicar.
            Tais elementos podem possuir diversas naturezas, e seria possível afirmar a existência de alguns “ídolos” que seriam alvo de desprezo para ambos os grupos. É o caso, por exemplo, da tomada irrestrita de uma tradição cientificamente não comprovada como verdade única e absoluta. Trazendo o debate para a realidade cultural contemporânea, é possível mencionar uma obra do renomado diretor estadunidense Martin Scorsese: o filme Silêncio, de 2016.
            Ao retratar o sofrimento e perseguição pelo qual jesuítas passam no Japão do século XVII, o filme, pelo menos a princípio, traz à tona a infrutífera busca psicológica destes homens por indícios da presença de Deus em suas vidas. Na ausência de indícios empíricos ou racionais, sua fé é colocada à prova, e os mesmos se veem tentados a abandonar o caminho divino.

            Em termos da cultura popular contemporânea, os fatos que acometem os jesuítas no filme Silêncio fazem com que os homens de Deus envolvidos na trama pensem “fora da caixinha”, ou seja, que se defrontem com a realidade e tradição que os criou, uma vez que as mesmas se demonstram ineficientes para explicar os novos fatos com que essas pessoas se deparam. Filosoficamente, trata-se essa questão de um dos maiores enfoques do pensamento moderno: a discussão acerca da incompetência da tradição para explicar as coisas do universo, enfoque esse que também não fugiu às reflexões de Bacon e Descartes, a despeito das grandes divergências entre esses pensadores no que diz respeito ao caminho que se deveria tomar para se obter tal explicação, e da reflexão que pensadores dessas correntes, como é o caso do próprio Descartes, promovem acerca da existência de Deus.

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