terça-feira, 23 de agosto de 2016

Síntese



Um som estridente ecoa no ar.
Respirações ritmadas e braços fortes.
Corpos formam uma teia de produção.
O carvão é posto embaixo.
O metal escorre por cima.
Velocidade e vozes ofegantes.
A mãos estão marcadas.
O corpo está marcado.

Acorda-se cedo.
Come-se pouco.
Aguenta-se muito.
Vende o corpo, vende a força.
Pela manhã veste o uniforme e sai.
Tira de um lugar, coloca em outro.
Tira de um lugar, coloca em outro.
Aperta, solda, pinta, esfrega.
O que resta?
Na volta come? Talvez,
as coisas andam muito caras.
Dá o que tem pras crianças.
Pra eles tem mais valia.

Numa fatídica manhã.
A rotina seguia sem mácula.
Homens e mulheres encobertos por graxa.
Destinos seguiam o rumo do mercado.
Era a tese quase perpetuada.

Só que, num átimo de segundo,
as respirações cessaram,
as bocas se emudeceram.
Um brilho surge iluminando o espaço.
Uma faca suga todas as forças. Vácuo.
Um braço se ergue estendendo uma flâmula ensanguentada.
É vermelha, pinga no chão.
O operário cortou os pulsos.
E agora se convulsa em meio ao estático.
Eis a antítese vibrante.

Na outra mão,
o trabalhador suicida trazia algo.
Mexia-se com agilidade.
Uma pomba branca
solta antes do último suspiro.
Revolução.

José Eduardo Adami – 1º Direito (noturno)


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