sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Pule para o último parágrafo


          Ser ou não ser – disse o príncipe da Dinamarca –, eis a questão – completou. Ser ou não ser, questionou-se um homem que, travando uma batalha contra seus demônios internos, entre a loucura e a sanidade, pulsava por uma resposta, por sua própria confissão, pela verdade. Ser ou não ser – é uma reflexão, representa o legado impetuoso que há séculos consome o sono da humanidade. O calor que esquenta o ser, a alma que inquieta a angústia da escolha. É o réu, o juiz e a sentença que condena e acorrenta do mais rico ao mais pobre ao mesmo destino miserável.
           A humanidade é Sísifo, rolando pedra montanha a cima, dia após dia, sem, no entanto, obter progresso algum. É paradoxal. É o amor, que é fogo que arde sem se ver. É a dor que não se sente. Contentamento… É forjada do caos, do acaso natural, da sorte e do azar, e busca a paz nas guerras, harmonia nas divergências e respostas nas equações físicas.
           A grande questão, ei-la: é ser e não ser, ao mesmo tempo, simultaneamente. Essa luta existencial constante, cria vida e morte. Dentro de cada um, de cada coisa, há além das aparências. Os objetos são em si e para si. Uma cadeira é uma cadeira, mas ao mesmo tempo é produto, resultado de trabalho, reflexo de um modo de produção capitalista, global e em larga escala. Para uns representa a liberdade do conhecimento acadêmico, para outros a prisão de ser apenas another brick in the wall.
          Mas deve-se ir sempre além das aparências. Porque aquilo que num instante se vê, no outro já não existe mais. Pois o cruel Chronus é também o novo Aeon. E o paradoxo, fardo da existência, cruz da humanidade, dádiva em viver, beleza e poesia de ser e não ser. Nem Marx, nem Engels foram tão originais assim. É o Yin Yang, heráclitos de novos tempos.

Pedro Guilherme Tolvo - direito noturno
           

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