segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O sorriso do operário no mar

O poema “Operário no mar” de Drummond deixa claro um afastamento entre o narrador e o operário por ele descrito. Um homem misterioso, cansado pelo seu trabalho, com marcas sob o corpo, caminha em direção ao mar, deixa a fábrica para trás, e ao se molhar exprime um sorriso, o sorriso que chega a trazer esperança de compreensão ao narrador. As passagens do poema podem ser interpretadas de diferentes maneiras. Algumas delas demonstram a nítida separação de classes, a separação entre o operário e o burguês, como na passagem: “Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza.... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. ” O poema vai além da descrição do narrador, se referindo a um movimento histórico no Brasil, a Era Vargas e a consolidação dos operários no Brasil. A literatura da época traz consigo uma função social de criticar a realidade e conduzir uma consciência da mudança.
Esse operário que sofre pela exploração capitalista, que é marginalizado pela sociedade, descrito no poema de Drummond, dialoga com as teorias marxistas do modo de produção, abordando um dos temas centrais de sua obra: a luta de classes. Marx e Engels acreditam no real para a análise científica, um olhar para o homem e sua história, trazendo assim o materialismo dialético que difere do idealismo hegeliano. Os autores trazem então a história humana como a história da luta de classes, sendo que o modo de produção capitalista nos leva a uma nova luta de classes , entre burgueses e operários. A marcha da história conduz a revolução que gerará então uma nova ordem social.
Assim, esse operário que caminha ao mar e que representa a figura de tantos outros operários possui a força para uma emancipação social, subvertendo a ordem e o distanciamento mostrado com o narrador. Drummond descreve: “Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão.” Ao caminhar deixando a fábrica para trás e sorrir quando está no mar, o operário traz essa esperança da distância entre as classes se minimizar.

Gabriela Guesso Pereira
1º ano Direito diurno

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