domingo, 1 de maio de 2016

O palco social

Em um dos episódios mais trágicos da História, 918 pessoas participaram de um suicídio coletivo na comuna de Jonestown em 1979, incitados por um líder religioso que pregava uma utopia em plena Floresta Amazônica. Mas será que, racionalmente falando, 918 indivíduos se suicidariam apenas fazendo uso de sua consciência individual? Claramente existe, neste fato e em muitos outros, um forte caráter social, em que a atitude de cada indivíduo teria sido impulsionada por um sentimento geral, que as impediu, por ora, de fazer uso de sua individualidade.

É justamente esse caráter social que o sociólogo Émile Durkheim, em sua obra “As Regras do Método Sociológico”, busca explicar. Partindo do pressuposto que fato social é todo aquele que é coercitivo, exterior a nós e dotado de generalidade, Durkheim explana sobre a forma como somos diretamente – e cotidianamente – influenciados pelos modos e costumes, impostos a nós ao longo de nossa educação, e também por movimentos de cunho coletivista, como o exemplo que dei anteriormente do massacre em Jonestown.

Para além do exemplo trágico do massacre de 1979, estes fatos sociais são mais próximos de nós do que podemos imaginar a princípio. Simone de Beauvoir, pioneira do feminismo, já pregava na metade do século XX que o gênero nada mais é do que uma construção social. Pode-se dizer ainda mais: que não só o gênero, mas grande parte das atitudes que temos são fruto de construções sociais, enraizadas em nossa sociedade ainda muito conservadora e que possui dificuldade de agir de forma libertária em relação a essas construções justamente pelo caráter coercitivo das mesmas.

Pode-se questionar esse caráter coercitivo, já que, não estando os modos e costumes previstos por lei (mas sendo a lei influenciada por eles, é importante constar), seríamos tecnicamente livres em relação a nossas escolhas, pois não poderíamos ser objetivamente punidos por elas. Porém não se é ingênuo o suficiente para ignorar o quão forte é o preconceito e a capacidade deste sentimento de poder influenciar de forma definitiva a vida das pessoas, somente pela opção de resistir a todo o movimento social ao qual somos submetidos desde que nascemos e sobre o qual não temos controle algum.

Sendo assim, de certa forma, seríamos todos os atores de um grande espetáculo social, tendo que seguir rigorosamente o roteiro, estando sujeitos – caso não o fizéssemos – a sermos expulsos deste espetáculo e termos que criar, a muito custo, o nosso próprio, submetidos a todas as dificuldades que são naturais àqueles que optam por não serem meros representantes das amarras sociais. O Show de Truman do cinema talvez seja mais real do que imaginamos.


Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
1º Ano - Direito Matutino 

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