sexta-feira, 18 de março de 2016

Viva alguns enganos

Tem aquela história: a burguesia surge como um pequeno novo grupo social, começa a acumular bens e capital além de pouco a pouco influenciar cada vez mais nos valores da humanidade. Consumista, provavelmente, seria a melhor definição para essa sociedade. E, em prol do consumo, tudo é permitido. Se antes, numa religiosidade dominante, eram extremamente reprimidas as diferentes formas de pensar, hoje, o mercado coloca todo mundo como igual enquanto consumidor. Claro que tem grandes diferenças socio-econômicas entre os indivíduos, mas a função dentro do sistema é a mesma para a maioria. Mas não foi sempre assim. Antes a filosofia era exatamente isso - filo sofia (amigo da sabedoria) - ou seja, a busca pelo conhecimento satisfazia-se em si mesma. Após mil e quinhentos e pouquinho surge uma nova ideia devido a uma nova necessidade: de se produzir cada vez mais e de uma forma cada vez mais prática.
Bacon propôs nada mais do que aquilo que a época estava pedindo. Defendeu uma ciência que tenha um fim, que o fazer científico deve ser prático e buscar as verdades. E, para isso, o homem deve-se livrar de seus ídolos. No entanto, ainda é válido pensar uma questão fundamental: o que faz do ser humano o ser humano ?
Muitos dirão a razão, outros a emoção e nunca chegaremos nem perto de uma resposta satisfatoriamente definitiva. E, quando olhamos no fazer científico durante a história humana, em nenhum momento houve uma ciência pura, uma ciência livre de pré-conceitos, uma ciência desumanizada - porque, em suma, uma ciência pura só seria possível sem o homem, afinal, inerente ao homem são os erros, os equívocos e as tendências místicas. Livrar o homem desses ídolos é matá-lo. O que faz o homem pulsar? Não é nem a ciência nem o dinheiro. O homem pulsa por causa de sua necessidade de acreditar em algo e quando acha algo para acreditar faz disso uma verdae, por isso é tão difícil após certa idade abandonar determinadas ideias - aquilo que sabemos é simplesmente tudo que somos e aquilo que sabemos é o que captamos pelos sentidos. Se os sentidos são falhos, captamos informações falsas e ainda acreditamos em ilusões. Mas isso não impediu a produção tecnológica, a evolução dos meios de comunicação e a robotização do mundo. Talvez isso só impeça uma evolução na própria essência de humanidade.

Pedro Guilherme Tolvo

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