quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Boaventura, Gilberto Freyre e as cotas raciais no Brasil

A polêmica da questão étnico-racial brasileira persiste até os dias de hoje, vide a questão das cotas raciais sobretudo nas universidades publicas. Tal problema é intimamente ligado ao racismo interminável presente na sociedade brasileira. Assim, as cotas são uma espécie de regulação social e instrumento politico-jurídico que regulam a sociedade, promovendo a liberdade e igualdade para todos. Vale como forma de emancipação social, inclusão, e tenta corrigir um passado de mais de três séculos de escravidão e marginalização do negro liberto - "solto" - na sociedade.
As cotas são necessárias para frearem a exclusão social dos que não se encaixavam nos padrões das universidades publicas, praticamente brancos com grande poder aquisitivo e que tiveram condições de bons estudos a vida inteira. Deve-se tornar o ambiente acadêmico plural, heterogêneo e fundamental para o desenvolvimento dos alunos. Além disso, “tratar os desiguais desigualmente para proporcionar a igualdade” é necessário para transformar a igualdade formal em material – segundo Weber. Esse fascismo social e econômico não deve permanecer e quanto mais homogêneo for o espaço em que vivemos, mais aprenderemos a lidar com as diferenças.
A discussão critica no texto de Boaventura de Souza Santos é como se fosse um debate cientifico, político, onde se deve respeitar a opinião alheia. Assim, vê-se que há quem desmereça as cotas com o argumento de considerar o Brasil um país miscigenado e sem racismo, além de alegarem que as cotas aprofundam o preconceito e aumentam o ódio entre brancos e negros. Além disso, há um argumento que utiliza a genética dos negros, uma vez que eles têm 70% dos genes dos brancos, isto é, tentativa de transformar as “em ciências naturais um problema que é social”. A economia dos saberes, que é a perspectiva cientifica, e vaga que se restringe aos recursos intelectuais para explicação, deve ser substituídas pela ecologia dos saberes, que é um tipo de “ecossistema teórico” com raízes baseadas num todo social, analisando o problema como um todo, desde suas origens.
Contra a politica das cotas está a meritocracia - uma espécie de economia do saber - que muitas vezes é confundida com o privilegio de determinada classe social, uma vez que na maioria dos casos ocorre a desigualdade de partida, por exemplo: um branco, nascido em São Paulo, no Morumbi, quer cursar medicina e irá competir com um negro, que mora na favela, que quer o mesmo curso. Visto que a competição é inviável, a ação afirmativa visa promover a igualdade de oportunidades como uma forma de desenvolvimento aos cidadãos e incluir os dois no ambiente acadêmico. Com a meritocracia, as vagas são ocupadas pelos mais aptos (darwinismo social), excluindo, portanto, os grupos sociais vulneráveis que realmente precisam ser protegidos pelo Estado.
Boaventura de Souza Santos enfatiza o pensar no direito, será ele é emancipatório? Vale para quem? Deve-se pensar do ponto de vista cosmopolita, na representação social das ruas, das cidades. A igualdade formal e material são bem diferentes, uma vez que a primeira é totalmente positivada e a segunda é como se fosse a “prática da teoria”. As cotas devem permitir que as vítimas da desigualdade e do preconceito tenham chances de participar da sociedade como um todo, mediante tais ações afirmativas para incluir as minorias; é a compensação de segmentos prejudicados pelos sistemas políticos.

Por fim, ao contrário do que o sociólogo Gilberto Freyre pensava em relação ao “mito da democracia racial”, em que o Brasil é um país miscigenado onde as etnias vivem em harmonia e há igualdade de oportunidades para todos, ocorre que, na verdade, nosso país ainda é racista e precisa tomar partida dessa situação e proporcionar a igualdade de oportunidade entre todos que nele vivem, a fim de promover um desenvolvimento sadio, mais humano e igualitário da sociedade.

Mariana de Arco e Flexa Nogueira - 1ºano de Direito Noturno

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