sábado, 4 de julho de 2015

Mais profundidade, menos extremismo equivocado.

“ Ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui é a terra que se sobe ao céu”.  Essa frase de Marx ( em A Ideologia Alemã)  é emblemática e extremamente significativa. Além de explicitar a crítica do próprio filósofo e de Engels ao idealismo hegeliano e aos próprios “socialistas utópicos” , ela expressa um dos principais objetivos desses pensadores: refutar a filosofia baseada em ideias abstratas e sem perspectivas de tornarem-se factíveis e buscar conhecer e a realidade concreta; aquela baseada em  na processo histórico. Ou seja, conforme , antes, Cícero atribuiu à Sócrates  a missão de “trazer a filosofia do céu para a terra”, a partir do século XX, pode-se conferir essa função a Marx e Engels.

Nesse ínterim, percebe-se que através de seu “socialismo”, esses filósofos querem decifrar as leis e contradições histórico- sociais, querem entender como as relações econômicas (infraestrutura) condicionam os vínculos sociais, políticos, jurídicos, pessoais. Portanto, o materialismo histórico de Marx e Engels não é um pensamento  puramente político, como hoje, equivocadamente, muitos consideram. Indo mais além, podemos concluir que os “marxistas” transformaram as análises de Marx em uma doutrina, uma religião; e isso é ,justamente o que Marx tanto criticava, uma vez que para eles,  socialismo era uma ciência, era a tentativa de compreender a realidade concreta com suas antítese e contradições.

Ademais, constatamos que Marx e Engels criticam a rigidez, a imutabilidade da metafísica, já que ambos acreditam que o produto, a síntese social e histórica é resultado de antíteses e contradições. Eles argumentam  asseverando que e o próprio homem possui as contradições, a transformação dentro de si. Essa concepção que o ser humano está em constante transformação e mudança é extremamente atual,  e, ao mesmo tempo,  fora analisado desde a Grécia Antiga, quando Heráclito afirmou que um ser nunca poderá entrar duas vezes no mesmo rio.

Outrossim, os pensadores refutam a ideia de analisar a sociedade, as relações de produção de maneira individual, isolada. Eles, por outro lado, valorizam a visão do “todo”. Isso pode ser objeto de reflexão atual: pelo ponto de vista parcial, ao analisarmos o caso  que virou manchete nacional recentemente sobre  um homem que roubou carne ( para dar a seus filhos) podemos considerá-lo um criminoso, alguém que infringe as regras; no entanto, ao tomarmos uma postura fundamentada na totalidade, ou seja, ao analisarmos o fato como um todo, buscando compreender  todas as relações que o geraram, percebemos, finalmente, que o pobre homem é , na verdade, uma vítima da sociedade. Portanto, concluímos o quão inovadora é essa postura de Marx e Engels de buscar a complexidade do todo em detrimento das visões parciais .

Por fim, sabe-se que uma das questões mais focadas na filosofia desses pensadores é  a supremacia da infraestrutura , das relações econômicas em determinar os demais tipos de conexões. Nesse contexto, eles analisam as formas de exploração econômica que interferem diretamente na vida política, jurídica e pessoal dos operários que sofreram os resultados da Revolução Industrial. Esse pensamento rompe os limites do século XX e ecoa por toda a modernidade, assumindo nuances, inclusive nos dias atuais. Recentemente dois casos tomaram os veículos de comunicação. O primeiro remete-se ao episódio protagonizado por um garoto que viveu toda sua vida “preso” aos muros dos condomínios fechados e interrogou sua mãe em relação à empregada doméstica: “ Mãe, onde vivem as pessoas marrons?”. O outro refere-se a luta das babás acerca do uso dos uniformes em público( símbolo de “status” e hierarquização). Nesses dois casos percebemos a atualidade de Marx e Engels: as injustas relações econômicas produzem injustas e humilhantes relações sociais, como percebemos nos dois casos citados;  essa correspondências vão se enraizando e se solidificando; produzindo as quase imutáveis desigualdades; que é, infelizmente, uma marca do Brasil. Como podemos mudar isso?  Talvez com uma análise mais minuciosa e menos extremista  e equivocada do pensamento de Marx e Engels, certamente, encontraremos inspirações, no mínimo.


Victória Afonso Pastori
Direito- Noturno
1° ano

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