sábado, 20 de junho de 2015

Solidariedade, protesto e futebol: Durkheim e o mês de junho de 2013.

A nossa sociedade ocidental atual apresenta, em geral, intensa divisão do trabalho, indivíduos diferentes com funções diferentes, especializadas e interdependentes e mecanismos coercitivos exercidos de maneira mais formalizada, apresentando, portanto, algo que Durkheim chamaria de “Solidariedade Orgânica”.
Entretanto, em alguns momentos ela pode apresentar as características da chamada “Solidariedade Mecânica”, que Durkheim considerava própria das sociedades “mais primitivas”:


O mês de junho de 2013, que será lembrado pelas manifestações, inicialmente contra o aumento das tarifas do transporte público, que tomaram proporções nacionais pode ser um bom exemplo de solidariedade mecânica presente na sociedade atual. 
Durante os primeiros dias de protesto na cidade de São Paulo, havia por parte do Estado, das mídias e por parte da própria sociedade, grande hostilização dos manifestantes de do movimento: A repressão policial era intensa, desproporcional e violenta e tudo que saía na mídia sobre os protestos era negativo, até o 4º Grande Ato, quando a imprensa também foi atacada, jornalistas se feriram e foram detidos enquanto cobriam a manifestação.
A repressão violenta contra aquilo que seria “prejudicial à ordem e à coesão social” é uma característica da solidariedade mecânica.

A partir daí, os protestos mudaram de figura: A mídia muda sua abordagem e começa a criticar a violência e os excessos da repressão policial, o apoio popular aumenta cada vez mais. Entretanto, o foco dos atos e das reivindicações dos manifestantes se altera: as pessoas foram às ruas para protestar não só contra o aumento da tarifa, mas contra a corrupção, demonstrar o seu descontentamento com o governo Dilma etc..
Observa-se então, o fenômeno que, nas redes sociais, foi chamado de “O despertar do Gigante”: as pessoas se vestiram com as cores da bandeira do Brasil, cantavam o hino nacional, exaltavam o país. O clima de nacionalismo crescia, e todos “eram iguais e semelhantes”, pois todos eram brasileiros. A coesão social estaria reestabelecida e a repressão, logo, diminuiu. 
Observa-se aí uma característica da Solidariedade Mecânica: a não distinção entre os indivíduos.
Nesse mesmo período, acontecia a Copa das Confederações: Com o clima de nacionalista, vários brasileiros foram aos estádios prestigiar a Seleção, cantaram a uma só voz e com entusiasmo o Hino Nacional e continuaram a cantar mesmo quando a música parou de tocar. A consciência coletiva, como na Solidariedade mecânica, era forte e intensa. 

Podemos ver, então, que em determinados momentos, as solidariedades se alteram mesmo nas sociedades modernas, industriais e “não primitivas” onde a Solidariedade Orgânica, segundo Durkheim, prevaleceria.



Giovanna Narducci, 1º ano de Direito Diurno

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