domingo, 21 de junho de 2015

Jardim Botânico. Um Ônibus. 5 Horas

Despreparo. Comoção Nocional. Crime vs. Punição.


   No dia 12 de Junho de 2000 um episódio marcou a cidade do Rio de Janeiro. Sandro Barbosa do Nascimento, 21 anos, deteve o ônibus da linha 174 nas proximidades do jardim botânico e fez dez reféns. O caso terminou tragicamente com a morte dele, e por falha da polícia militar, com a da professora Geísa Firmino Gonçalves.
   Quando Sandro saiu do coletivo, após quase 5 horas do "sequestro do veículo", ele utilizou Geísa como escudo. Um policial, sem preparo algum, literalmente saltou sobre os dois e sem apoio disparou acertando acidentalmente uma bala de raspão no rosto da professora. Como reflexo, Sandro atirou nas costas da refém que em poucos minutos entrou em óbito.
   Analisando o fato da perspectiva Durkheimiana vemos total correlação com o funcionalismo, causa imediata. Antes de ser preso, o jovem foi imobilizado pelos policiais e todos os espectadores do local, depois do disparo, partiram para cima dele. Queriam linchá-lo. Todos queriam um pedaço dele pra si. E como esperado, a polícia militar fez justamente o que a sociedade queria. Sandro foi asfixiado pelas mãos dos que garantem a segurança. É evidente a ideologia da sociedade de se fazer portadora da justiça. O caso do ônibus 174 serviu não só para punir Sandro, mas sim para irradiar ao restante da sociedade o que acontece com quem infringe ou ameaça a ordem ou a lei.
   Entretanto a causa para a ação do rapaz, no momento, pouco foi abordada e divulgada. Sandro aos 8 anos de idade presenciou o assassinato da própria mãe. Foi um dos sobreviventes da chacina da candelária, em que menores de idade moradores de rua  foram assassinados, como de costume, pela PM. Sandro ao longo de sua vida foi rejeitado. Tido como inexistente. Ele não era gente. Segundo a assistente social, Yvone Bezerra, que o acompanhou por algum tempo, ele não seria capaz de matar ninguém. O sequestro em si servia de um grande espetáculo. Ele queria ser visto. Ser alvo de atenções. Ser temido. Ser considerado alguém. Vivo. Como comprovação da afirmação da assistente, durante horas do "sequestro" várias foram as ameaças de assassinato. Nenhuma foi cumprida. Alguns dos passageiros até auxiliaram na construção da peça teatral.
  Como de praxe, para evitar a anomia, a punição foi realizada as escuras. Os policiais foram absolvidos do crime de assassinato. Mais uma vez esse "espécime que apodrece o demais indivíduos", foi limpo. Teve o que muitos acharam justo. A consciência coletiva foi posta em prática.
 O irônico é analisar a fala de Janaína Lopes Neves, sobrevivente do caso que teve uma arma apontada na cabeça, por horas, e ainda contribuiu com relatos no filme "Ônibus 174". Ela disse para Sandro que a única vítima no local era ele. O raciocínio dela estava certo. Infelizmente, uma morte já estava sentenciada, desde o início. A morte do indivíduo que escapou da chacina da candelária.
    

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