segunda-feira, 22 de junho de 2015

Cultura: fato social


   No livro de Roque de Barros Laraia, "Cultura: um conceito antropológico", cultura apresenta-se de inúmeras maneiras, dependendo do autor relacionado; uma delas, como uma lente, a qual o homem utiliza para observar o mundo. Ela seria, portanto, algo inerente às sociedades, agindo no indivíduo em sua maneira de interpretar seu universo: culturas diferentes resultariam em resultados, observações - na maioria dos casos- diferentes; reafirmando sua importância no pensamento humano. Cultura também se relaciona com as tradições e costumes, os quais se inserem nela e, assim, compõem mecanismos de padronização na sociedade, ou seja, as práticas e conceitos se perpetuam em um grupo. Novas ideias seriam, pois, vistas - na maioria dos casos - como algo ruim para a estrutura social, visto que "quebraria" com os padrões. Porém, necessárias para o progresso de um grupo, posto que seus valores não são eternamente estáticos, já que o ser humano não o é.

            "cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra" 1

    Percebe-se na cultura, caracteres que podem configurá-la como um fato social, cuja função seria manter a ordem social, ou seja, garantir a manutenção dos valores de uma dada sociedade harmonicamente; freando tal progresso. Um personagem alheio à cultura sofreria então a coerção desta para seguir os padrões estabelecidos, ou a própria sociedade - dada sua característica dinâmica, de contínua mudança - adaptaria-se ao novo e incorporaria seus princípios aos pré-existentes.
    Abarcando na ideia de que "A homofobia nasce e se consolida no campo da cultura", separei uma das causas eficientes de tal comportamento - a de quem possui/pratica, declaradamente ou não. Considerando, portanto, a frase de Leandro Colling 2 - professor e pesquisador - e somando a ela a ideia da cultura como um fato social, percebe-se que a prática homofóbica surge claramente como um desdobramento dos nossos valores; essa aversão apresenta-se mais rígida e forte em alguns setores, grupos, "mini" sociedades e em outros nula e inexistente, ou seja, em uma parte da sociedade as novas ideias "trazidas" foram aceitas e incorporadas.
     Com relação aos que não aceitam, temos que: grande parte de seu discurso baseia-se na concepção de família tradicional, de homossexualidade como "desvio" da natureza humana. O exercício de tal prática, portanto, é justificado pelos "defeitos" que compõem a outra parte, ou seja, surgem aspectos de "salvação", "conversão" e a famosa "cura". O homossexual necessitaria, pois, de ajuda; visto isso, retira-se que esta "filosofia" tem como eixo a intervenção do "são" no "doente"; seus atos seriam em prol da humanidade e aqueles cujos comportamentos não mudarem ou aqueles que não quiserem mudar (isto pensando como os defensores das curas - para eles homossexuais procurariam o tratamento) serão tachados desde desvirtuados, desalinhados, para muito pior. É perceptível a lógica orgânica de sociedade proposta por Durkheim: aqui, as células fixas do sistema tentam "realinhar", "reinserir" e "retroceder" aqueles fora dos padrões; a intervenção citada acima seria em prol da permanência das tradições, tão usadas em seus discursos, bloqueando o processo natural de autodesenvolvimento de uma sociedade.

Com relação às ações e pensamentos erguidos por tais, que dizem “amar a todos” e praticam tamanha barbárie, retirei esses trechos:

"A tolerância não é o oposto da intolerância mas a sua falsificação. Ambas são despotismo. Uma se atribui a si mesma o direito de impedir a liberdade de consciência, e a outra de autorizá-las. "  3

“Nosso próximo não é nosso vizinho, mas o vizinho deste” – assim pensam todos os povos” 4

“A vaidade dos outros só fere nosso gosto quando fere nossa vaidade” 5

Àqueles que bravamente suportam essas dores:

“(...) é preciso tapar os ouvidos mesmo aos melhores argumentos contrários. É o indício de um caráter forte. Quando oportuno, deve-se, portanto, fazer triunfar a própria vontade até a estupidez. ” 6

“O que se faz por amor sempre se faz além do bem e do mal” 7





1.      MONTAIGNE, Michel. Ensaios. Apud LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. p.13
2.      Leandro Colling: http://conselho.cultura.ba.gov.br/a-homofobia-nasce-e-se-consolida-no-campo-da-cultura/   Entrevista ao Conselho Estadual da Cultura (CEC)
3.      PAINE, Tomás. SCAMPINI, Pe. José. A liberdade religiosa nas constituições brasileiras: estudo filosófico-jurídico comparado. p. 103
4.      NIETZSCHE, Friedrich W. Além do bem e do mal. p.97
5.      Idem, p. 100
6.      Idem, p.84
7.      Idem, p.95

LARAIA, Roque de Barros – Cultura: um conceito antropológico, Rio de Janeiro: Sahar, 2014
NIETZSCHE, Friedrich W. Além do bem e do mal. São Paulo: Lafonte, 2012
SCAMPINI, PE José. A liberdade religiosa nas constituições brasileiras: estudo filosófico-jurídico comparado. Petrópolis: Editora Vozes Ltda., 1978

Roan Dias
1º - Direito Diurno 
Aula 6

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