domingo, 24 de maio de 2015

Fotos de você: os limites das ações em nome do progresso

(disponível em http://coral.ufsm.br/roth/olga4.htm)

 “Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. 
É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. 
Beijos pela última vez. Olga.”
(Trecho da última carta de Olga Benário Prestes – Abril 1942) 

Naquele 10 de Novembro 1937, as ondas do rádio trouxeram uma voz conhecida anunciando à Nação um período novo, de modernidade para o País. Um regime forte, de paz, de justiça e de trabalho. Um governo pela continuação do Brasil, pela existência nacional, que restaurasse a Nação e se sobrepusesse sobre as influências desagregadoras. Uma nova Constituição para substituir aquela de 3 anos antes.

Não seria exagero afirmar que esse episódio representa a extrapolação dos ideais de ordem, de felicidade terrena, de primazia do coletivo sobre o individual. Um momento que marca o descompasso entre a marcha de um pensamento político e a cadência do ritmo democrático. Um pensamento que, apesar de ter indicado um caminho a ser seguido, ignorou que poderiam existir outros igualmente possíveis. Afinal, o universo não é governado apenas por funções diretas, bijetoras, de causa e efeito.

A bela mecânica newtoniana nos permitiu apreciar os fatos naturais por uma nova perspectiva. Mais do que isso, permitiu à ciência avançar por novas fronteiras, mostrando ao homem que a visão macroscópica do universo, das estrelas e buracos negros, e a microscópica das partículas subatômicas, quarks e elétrons, são complementares e igualmente importantes para descrever o fenômeno da vida. Tal constatação científica parece não se coadunar com a ideia simples de associar sociedade a uma máquina, com cada indivíduo devendo assumir uma função particular nesse conjunto complexo, sob pena de ser descartado.

No episódio histórico citado, muitos foram descartados em prol de um idealizado bem comum. Talvez o caso mais marcante (e que não deve ser esquecido) seja aquele envolvendo a família Prestes e que serve de exemplo de como um projeto de futuro não deve ser construído em prejuízo da vida humana. Esquecer isso é esquecer que as relações humanas são fundamentalmente realizadas no plano individual e, nesse contexto, cada um, por mais desconhecido que seja, assume uma importância ímpar.

“Eu tenho olhado suas fotos por tanto tempo,
que quase acredito que elas são reais.
Eu tenho vivido há tanto tempo com suas fotos
que quase acredito que elas são tudo o que consigo sentir.”
(The Cure – Pictures of you)

Fernando – 1º Ano Direito Noturno
Texto sobre o Positivismo de Comte

Referências:

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