segunda-feira, 25 de maio de 2015

(Comte) Marginalização das Reivindicações

       Após todas as revoluções burguesas do século XVIII, Augusto Comte surge como um consolidador das ideias dessa classe, como um ponto definitivo na instituição de seu poder e cuja intenção era o mantimento deste. Pode- se dizer que a filosofia positivista, embora, de certa forma, iniciada por Bacon e Descartes, coloca-se como um divisor de águas entre a filosofia antiga e a filosofia preponderante na Era da Burguesia, que vai da revolução francesa até os dias de hoje.

       Comte buscou esquematizar as diferentes sociedades, já que este era um objeto movediço a seu ver; ele tentou procurar aquilo que havia em comum entre estas organizações e então, sistematizou as relações, sem tato algum ou respeito pelas diferenças, padronizou o que poderia ser considerado comum e normal. O filosofo buscava observar a sociedade como os físicos observavam os planetas – o paradigma newtoniano da gravidade, por exemplo, foi muito usado por ele. Se valendo disso, ele acabou por instituir um dos maiores males que qualquer sociedade pode enfrentar: a ideia errônea de que relações humanas são passiveis de interpretação superficial e de que existe um padrão – excluindo assim milhares de minorias, oprimindo aqueles que, por escolha ou não, não se encaixam, gerando preconceitos, imensas desigualdades e até mortes.

       O burguês pregou também pela ordem acima de qualquer outra coisa; a sociedade deveria fazer o que fosse preciso para se manter, mesmo que isso significasse ações imediatas abusivas, como intervenções militares (e, por isso, suas ideias foram muito absorvidas por esse grupo, os militares, se incorporando a seus lemas). Sendo assim, o governo foi aliviado em seu papel de buscar o real motivo, de se aprofundar nas causas de certo acontecimento ou fato que perturbe a ordem, como por exemplo, o fenômeno das favelas ou a violência urbana, e de trata-lo em longo prazo, de maneira cuidadosa, e para fins definitivos, sendo a repressão a solução mais usada.


       Entre tudo isso, porém, talvez a maior fatalidade infligida por Comte foi amordaçar todos aqueles que se sentem insatisfeitos com a sociedade, todos aqueles que são oprimidos, que querem e precisam de mudanças. O filosofo instituiu o fim da total liberdade (afinal, os reprimidos não seriam os da classe dominante) – a liberdade do individuo não podia extrapolar a estática do conjunto e, portanto, não era liberdade – o que remete ao forte caráter positivista que os regimes nazifascistas possuem. Pode-se dizer então que Augusto Comte tirou a maior arma que um povo pode ter, a de fazer a sua revolução e com isso, incrustou a opressão de tantas formas que as consequências perduram até hoje, e perdurarão enquanto a burguesia tiver nele base para se manter e possuir os objetos de coerção, deixando o povo a margem, como se sua luta não fosse legítima. 

Stephanie Bortolaso
Direito - Noturno 

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