quinta-feira, 7 de maio de 2015

A trajetória humana no ponto azul

As pedras são testemunhas do poder soberano da natureza. Com paciência ela evolui, arrastando todos os seres desse planeta, até mesmo os mais rebeldes, para um destino inevitável. O tempo desse percurso, no entanto, não é certo.
Olhem de novo esse ponto.
É aqui, é a nossa casa, somos nós.
Em seu progresso, cada vez mais acelerado, o homem 
aprendeu a olhar de forma científica, a abstrair do todo aquela parte de interesse particular e a solucionar suas questões de modo local, com raciocínio linear.
Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece,
qualquer um sobre quem você ouviu falar,
cada ser humano que já existiu, viveram as suas vidas.
O sucesso dessa abordagem obscureceu a visão humana.
O interesse econômico e a satisfação de necessidades imediatas,
jogam para segundo plano os efeitos de políticas que
desconsideram a bem conhecida
escassez de recursos naturais.
O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento,
milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes,
cada caçador e coletor, cada herói e covarde,
cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês,
cada jovem casal de namorados, cada mãe e pai, 
criança cheia de esperança,
inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto,
cada "superestrela", cada "líder supremo", cada santo e pecador
na história da nossa espécie viveu ali - em um grão de pó
suspenso num raio de sol.
Mas isso tem um preço.
O tempo tem mostrado que os ganhos tecnológicos
não são suficientes para compensar as disputas dentro da própria espécie humana,
os malefícios da abundância excessiva
ou da escassez miserável.  
A Terra é um cenário muito pequeno
numa vasta arena cósmica.
Pense nos rios de sangue derramados
por todos aqueles generais e imperadores, para que,
na sua glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos
de uma fração de um ponto.
Pense nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste pixel aos praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
A natureza é clarividente,
ela sempre teve uma saída às implosões do planeta.
Mas o homem é novo
e caminha às cegas.
As nossas posturas,
a nossa suposta auto-importância,
a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo,
são desafiadas por este pontinho de luz pálida.
O nosso planeta é um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar de nós próprios.
Um olhar universal e global
é o radar na necessária mudança 
de percurso do homem.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto.
Só assim para ele não agonizar como o imponente narval,
no fim de sua escolha fatal.
Já foi dito que astronomia é uma experiência de humildade e criadora de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o "pálido ponto azul",  o único lar que conhecemos até hoje.

(Carl Sagan – Pale Blue Dot - disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1lido_Ponto_Azul)

Fernando - 1º ano Direito noturno (filme: O Ponto de Mutação - Bernt Capra)

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