segunda-feira, 20 de abril de 2015

O mundo que opera contra minha vontade

   No “Discurso do Método”, do francês René Descartes, o autor, narrando em primeira pessoa e de forma inusitada, pretende elaborar um novo método de aprendizado e conhecimento, baseado na razão científica e autorreflexão. Para isso, ele elabora uma moral provisória, que ele mesmo segue, de forma a desconstruir o conhecimento que lhe fora passado até então.
   Nessa moral provisória, composta por três pontos principais, Descartes acredita que chegar à “verdade científica” (ou seja, a verdade livre de sensos comuns e com alicerces firmes) depende de se desprender de suas próprias convicções e elaborar novas, que levem em conta a vontade do mundo.
   A ideia de Descartes pode ser aplicada no mundo atual, no sentido em que a dificuldade em abraçar novas ideias é um dos grandes provocadores de conflitos da sociedade moderna. Em todas as civilizações, desde a árabe, chinesa e ocidental, a firmeza em um ponto de vista sólido e imutável causa tamanho atrito entre gerações e grupos diferentes que, não raro, a violência termina sendo usada. Um exemplo disso seriam os conflitos entre as parcelas conservadoras da sociedade e os grupos progressistas, como os que lutam pela laicidade do Estado.

   Uma frase de Schopenhauer que se encaixa perfeitamente nesse contexto é: “o mundo insiste em operar contra a minha vontade”. Aqueles que mantêm suas opiniões imutáveis, mesmo com a evolução da sociedade, vão inevitavelmente ficar ultrapassados; é preciso vencer suas crenças de modo a avançar intelectualmente, socialmente e moralmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário