segunda-feira, 20 de abril de 2015

Discurso Pessoal

     René Descartes buscou em sua época uma sistematização na filosofia, que foi alcançada com o “Discurso do Método” e, embora esta concepção tenha trazido uma nova forma de enxergar a razão – que se torna metódica - ela não passa da concepção de um só homem que, através de uma humildade exacerbada e possivelmente falsa, não possuía visão geral da complexa estrutura do mundo, suas relações sociais, seus comportamentos e pensamentos (já que tudo isso é praticamente impossível de se sistematizar) - o que faz de sua obra, não genérica como muitos afirmam, mas sim, de cunho extremamente pessoal.
    Iniciando seu discurso, Descartes faz questão de se apresentar como estudioso das mais diversas áreas e doutrinas, grande observador da prática - e apesar de tudo isso, está sempre insatisfeito e não encontra aplicações de caráter elevado ao conhecimento obtido; diz também serem as ciências cuja base é a filosofia, fracas. Isso tudo mostra como Descartes é, no fundo, tão presunçoso quanto ele nega ser no início de seu método, já que sua modéstia é desconstruída conforme a apresentação se desenrola e se desfaz totalmente no final da primeira parte quando ele diz só ter encontrado satisfação ao estudar a si mesmo.
     Ao propor o primeiro dogma: Obedecer às leis, os costumes de seu país, se manter na religião da infância, ele não apoia o homem em explorar e escolher aquilo que o agrada em vez daquilo imposto; e ao aceitar a opinião dos mais sensatos, pois são os mais moderados e omitir as suas próprias não vê que ao não se questionar é impossível o progresso; não defende nenhum ideal, apenas quer o caminho mais cômodo. Em seu segundo dogma, que consiste em manter-se o mais firme possível em suas ações, mesmo que as tenha que escolher ao acaso - não há diálogo e flexibilidade para se mudar de opinião. Por fim, em seu terceiro dogma: Procurar vencer a si próprio antes do que o destino, sendo isso uma forma de se privar de desejos impossíveis, ele mostra que não busca se superar ou mudar o mundo, mas sim, se ajustar ás situações que lhe ocorram.
     Sendo assim, Descartes soa como um eterno pessimista, que acredita ter se saturado nos estudos, mas sem real paixão ou compreensão por nenhuma das áreas que estudou já que ele apenas mostra as falhas em todas elas. Pode-se dizer que ele não entende como é importante a analise do que já foi escrito por outros autores, em vez de esperar encontrar todas as respostas nesses. Mostra-se, acima de tudo, apenas um homem que se preocupa muito mais com seu julgamento de certo e errado, e seu mantimento num caminho que segundo ele é o correto, do que as aplicações de seu método na sociedade real, que é imensamente diversa.

(Stephanie Bortolaso. Direito Noturno, 1° ano - Aula 2)

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