terça-feira, 8 de abril de 2014

Peixes fora d'água

Pai da ciência moderna. Título nobre? O filme mindwalk nos mostra que nem tanto. Bacon defendia a escravização da natureza, submissa à vontade humana, explorada incessantemente. Mecanicista, Descartes via a vida como uma série de mecanismos, tudo e todos máquinas. Esses dois pensamentos mudaram a forma de ver o mundo. As consequências?
            Aquecimento global, poluição, câncer. Escravização pelo tempo mecânico, serviçais do poder econômico, solidão. Claro, há também avanços inimagináveis em todas as áreas do conhecimento, invenções revolucionárias como a prensa, o avião, a internet. Porém, o modo de pensar que permitiu tais avanços está ultrapassado. Sucedidos e sucessores dos dois filósofos também são culpados. Nós somos culpados. O que fazer quando o sistema está errado?
            A resposta para essa questão é parcialmente introduzida ao fim do filme. As reflexões e questionamentos de um político, um poeta e uma física se cruzam e se somam na ilha do Monte Saint Michel. Suas ideias aparentemente contrárias convergem para o mesmo ponto, a busca do bem comum e o método para alcançá-lo.
Partem dos problemas contemporâneos, das políticas públicas para resolvê-los, de como é o sistema para como deveria ser. Do maior ser para a menor partícula. É então que a física se destaca. No melhor estilo “mostre-me a luz da caverna”, a cientista dá uma aula sobre o universo. Após responder sobre a natureza do átomo, da luz, da matéria e das relações e responsabilidades humanas, conclui: a vida é uma série de conexões.
O mundo atual se baseia na intervenção quando deveria preocupar-se com a prevenção. Milhões são investidos para aprimorar corações artificiais quando uma educação alimentar correta evitaria esse e mais problemas. As ligações, tão fracas e erráticas, poderiam ser “consertadas” com a ajuda mútua entre os homens. Sim, leva tempo, é uma grande estrada.
 A trilha sonora de Philip Glass dá o ritmo da caminhada pensante, esta pontuada pelo político que indaga e pelo poeta que lembra: o sentimento humano é essencial para o sucesso da jornada, nenhum homem é uma ilha. "Sou só uma rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos habituados à longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho como tu, investigando as estrelas sem e em minha rede, durante a noite, acordo nu. A única coisa capturada é um peixe dentro do vento". 
           

            

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