sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ordem sem Progresso

Em 1889, militares brasileiros, banhados pelo positivismo europeu, proclamaram a República em nosso país. “ORDEM E PROGRESSO” foi a máxima que conquistou espaço na bandeira nacional, a qual é a síntese do pensamento do filósofo francês Augusto Comte, o fundador do pensamento positivista.
De acordo com Comte, apenas leis invariáveis, respeitadas pelas instituições de uma sociedade e por cada indivíduo cumprindo seu papel social (ordem), são capazes de gerar o desenvolvimento (progresso). Tais leis referem-se a aspectos superficiais e objetivos do convívio social, sem haver lugar para a busca da essência das coisas e da natureza humana. Partindo-se dessa Física Social, o filósofo defendeu a busca pelo ensino positivo, afastado de conceitos metafísicos, teológicos e literários: a substituição de “poetas” por “engenheiros”.
A anarquia social para Comte, seria a quebra dessa estática da sociedade, a partir do momento que ela deixasse de seguir suas leis imutáveis. Revoluções, Guerras, Exibicionismos, Rolezinhos, Manifestações. Tudo isso não causaria medo apenas em Comte, mas causa, também, na população moderna. Se há uma guerra na Criméia (e em qualquer lugar do mundo), “favelados” caminhando pelos shoppings centers, mulheres mostrando os seios em protestos e manifestações democráticas exigindo o fim da corrupção é porque há algo de errado na sociedade. E sem perceberem, todas as pessoas que se sentem incomodadas frente a estes fatos, estão embebidas na Filosofia Positiva, uma vez que precisam seguir e viver num estado de Ordem para sentirem-se confortáveis.
Tal mentalidade é tão atual que os inúmeros “Marco Felicianos” existentes hoje baseiam-se em teorias de Comte, principalmente no que diz respeito a ideia de que tudo o que não segue a normalidade é visto como patologia e deve ser tratado. Pois bem, “como a homossexualidade não segue a lógica natural das coisas, ela é uma doença. Contudo, não há motivos para os gays se preocuparem, pois já existe uma cura para eles: a Cura Gay! Tratem já de respeitarem a Ordem homem-mulher, pois estão atrasando o Progresso do país”. Talvez  até Comte se envergonharia de tal discurso...
O positivismo teve sua importância na época em que viveu Augusto Comte, mas basear-se por inteiro nessa filosofia em pleno século XXI parece bastante equivocado. Abandonar a essência das coisas é ignorar parte do ser humano, a qual não está desvinculada das relações sociais. Os homens não são meras máquinas seguidoras de leis, não existem regras para sua orientação sexual e seus costumes, não existe seleção de pessoas para caminhar em espaço público. `As vezes, o “caos” é necessário para gerar boas mudanças, ignorando isso o homem justifica sua conformidade com problemas sociais.
Nathalia Nunes Fernandes, Direito Diurno

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