segunda-feira, 7 de abril de 2014

As Relações



O filme “Ponto de Mutação” discorre sobre questões científicas, filosóficas e sociológicas de maneira inteligente e densa, propondo quebra de paradigmas a partir dos quais observamos o mundo, as ciências e as nossas relações tanto sociais quanto com a natureza. As noções a serem superadas não são quaisquer, mas sim noções impregnadas nas mentes das pessoas desde Descartes e seu método científico.

Passando por várias questões importantes e atuais, a personagem Sonia propõe novas maneiras de enxergar o mundo, dizendo que a maior crise que enfrentamos é uma “crise de percepção”, e que se essa visão for modificada, os problemas da sociedade poderiam ser atenuados. O posicionamento de Sonia poderia ser comparado à posição de Francis Bacon que, em sua época, propôs um novo método científico, que viria “curar a mente” e construir um conhecimento “verdadeiro”. Porém as semelhanças terminam por aí, já que as ideias em si são completamente diferentes. Sonia chega a expressar aspectos nocivos nas ideias de Bacon. A insistência de Bacon em transformar, interferir e controlar a natureza pode se relacionar com a atual problemática ambiental que a Terra enfrenta hoje, afinal, de certa forma conseguimos o que Bacon tanto queria, fazer com a natureza o que quiséssemos, controlá-la, usá-la a nosso favor. Porém aonde isto nos trouxe?

Alguém que enxergue o mundo atual a partir de uma visão cartesiana, de fragmentação do objeto a ser estudado, jamais poderá entender a natureza, pois nela tudo está conectado, relacionado. Enxergar pelo método cartesiano descaracterizaria a natureza segundo tal definição. Tal visão fragmentada, além de limitar a ciência em si, também tem efeitos negativos na sociedade, como bem exemplifica Sonia durante a discussão.

Um exemplo válido de tal lógica aplicada à nossa sociedade pode ser a questão da criminalidade: se o problema fosse encarado não como uma questão isolada a ser remediada, mas sim como fruto de um problema no sistema como um todo, haveria uma preocupação maior em resolver os problemas de desigualdade social presentes na sociedade, resultando assim numa diminuição da criminalidade, melhorando a qualidade de vida de toda a população e fazendo com que o governo gastasse menos com o sistema penitenciário, revertendo esses gastos para quaisquer outras obras sociais. Ou seja, é melhorar a nutrição de uma pessoa para que ela não fique doente, não somente pensar num coração artificial para quando a pessoa ficar de fato doente e precisar algo assim, como dito durante o filme.

A possibilidade de relacionar o exemplo acima com o que foi discutido pelos personagens do filme mostra a abrangência das ideias ali presentes. A aplicabilidade de tais ideais no nosso mundo é algo bastante complexo, porém é inegável que há valor tanto científico, quanto filosófico e sociológico nas divagações feitas por aquelas pessoas numa isolada ilha da França.

Lucas Mota Plaza - 1 ano Direito Diurno

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