Max Weber, ao escrever a obra "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" procura entender como a ética protestante fez vigorar o espírito do capitalismo nas suas entranhas. Para compreender melhor como esse processo consolidou-se, Weber, recorre às seitas protestantes e às características das mesmas que propiciaram a evolução de tal processo.
É preciso lembrar que a filosofia de Weber sempre leva em conta a ação social dentro do seu contexto e não de forma isolada, por isso foi importante recorrer ao ambiente criado pelas diversas seitas protestantes e analisar, então, como o capitalismo pode consolidar-se economicamente nessa realidade.
É destaque dentro da obra como uma mudança social, por exemplo a Reforma Protestante, foi necessária e eficaz para consolidar esse modelo econômico de acumulação de bens e que visa, principalmente, o lucro. Percebe-se, ainda, que tal Reforma foi necessária uma vez que as normas religiosas estabelecidas pela Igreja Católica não se restringiam ao convívio dentro das paróquias, essas leis condenavam a prática de cobrança de juros e acumulação de capital que o capitalismo tem como alicerce. Dessa forma, foi preciso romper com relações sociais que ditavam o comportamento da sociedade. Como consequência, a queda dos princípios do catolicismo foi inevitável, assim como a ascensão do trabalho que passou a ditar quais seriam as pessoas capazes de alcançar a "salvação divina".
Há aqui, o início de um ciclo que consolida os protestantes como reais capitalistas, uma vez que ao gerar trabalho para si e para demais pessoas, cresciam as chances desse individuo ser salvo após a morte e, partindo disso, os seguidores de Martinho Lutero e João Calvino firmaram-se como os empregadores que ficavam com o lucro das produções, os donos das maquinas utilizadas e, consequentemente, os que moviam a economia através dos novos princípios capitalistas não condizentes com a realidade católica da época.
Bárbara Andrade Borges - Direito Diurno
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
O início do capitalismo moderno
Em “A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo’, Weber discorre sobre a relevância da reforma protestante para a
formação de um capitalismo moderno, relacionando as doutrinas religiosas de
crença protestante, para demonstrar o surgimento de um modus operandi de
relações sociais, que favorece e caracteriza a produção de excedentes, gerando
o acúmulo de capital.
Há de se dizer que o modo de vida pregado
pelo catolicismo era propagado além dos limites da Igreja e, portanto,
atravessava a vida dos sujeitos. Nesse contexto, o catolicismo condenava a
usura e pregava a salvação das almas através da confissão, das indulgências e
do culto. Assim, seguindo esta cultura religiosa, a acumulação de bens não
encontrou caminhos amplos, e permaneceu adormecida.
Com o surgimento do protestantismo, a
doutrina e a cultura católica se modificou e a salvação passou a ser para
alguns, não mais passível de ser conquistada, mas sim uma providência divina,
onde o trabalho era meio crucial para glorificar-se. Para o protestante, o
trabalho era o que enobrecia o homem, o dignificava diante de Deus, seria parte
de uma rotina que dá as costas ao pecado. Ou seja, durante o período em que
trabalha o individuo não encontraria tempo de contrariar as regras divinas. Assim,
restava a quem acreditava nestas premissas, o trabalho e a acumulação, já que
as horas estendidas na produção excediam as necessidades destes religiosos,
gerando o lucro.
Dessa forma, quando se fala em concepção
tradicional do trabalho é uma referência à concepção católica, que não
acumulava e pensava o trabalho como meio de subsistência. Já quando se vê o trabalho como fim absoluto, trata-se da
concepção protestante, que vê o emprego de esforços produtivos a finalidade da própria
existência humana, ligada com os propósitos providenciais de Deus.
Essa mudança no comportamento da sociedade
leva, além do choque de culturas, a uma abrupta mudança no aspecto econômico.
Inicia-se um ciclo: o católico trabalha para viver, o protestante vive para
trabalhar. O protestante gera e acumula o excedente, investe em poupança e gera
lucro. O protestante tem como objetivo salvar-se, e se o trabalho é salvador,
empregar outros ajuda na salvação alheia. Então o protestante é dono dos meios
de produção, tem os funcionários e cada dia mais excedentes, gerando mais
capital. Assim é concebida a gênese do capitalismo moderno.
Graziela da Silva Rosa - Direito Noturno
A Reforma Protestante além da religião
A Reforma
Protestante ocorreu nos séculos XVI e XVII, onde as novas doutrinas religiosas,
religiões de maior impacto foram a de João Calvino (Igreja Calvinista) e a de
Martinho Lutero (Igreja Luterana). Principalmente estas, mas não só, podemos
dizer que não tiveram seu caráter reformatório exclusivo para o âmbito
religioso, se expandindo também no âmbito econômico o que, consequentemente,
também gerou mudanças sociais, culturais, comportamentais.
No que se refere ao comportamento
temos que os adeptos deste doutrinamento tiveram mudanças, pois passaram a
levar uma vida metódica, regulada, ou seja o protestantismo mudou a ética do
indivíduo a fim de assegurar e fortalecer o espírito do capitalismo. Além
disso, houve uma mudança na concepção de trabalho onde este deixou de ter como
objetivo o suprimento das necessidades vitais e passou a ser visto como forma
de acúmulo de dinheiro, entretanto vale ressaltar que este fenômeno é diferente
da simples ânsia pelo lucro, pois isto está enraizado no homem, tem-se uma
racionalização contábil afim de acumular e multiplicar capital. Vale ressaltar também
que a grande característica do burguês era o comedimento e não a
ostentação.
Estas novidades sociais não se
limitaram ao oeste europeu visto que com o tempo, por meio desse pensamento
racional dos lucros e dessa nova ética, os capitalistas adeptos ao
protestantismo passaram a lucrar mais que os capitalistas de outras religiões,
gerando uma “migração religiosa” e expandido a doutrina protestante. Já com
relação ao direito temos que este se desprendeu do caráter penal e ampliou-se
para a área administrativa, comercial, auxiliando na expansão capitalista.
Por fim, é importante destacarmos
que estas igrejas protestantes, principalmente a calvinista, tinham uma linha
de pensamento diferente das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais que vemos
hoje no Brasil. A igreja calvinista pregava a doutrina da predestinação, ou
seja, uma pessoa ao nascer já estava predestinada a ser rica ou pobre, sendo
portanto o ganho de dinheiro um sinal dessa vocação natural. Já as igrejas que
vemos atualmente dizem que ao pagar o dízimo e realizar outras contribuições
financeiras o indivíduo passará a ter avanços econômicos. Tendo portanto como
única semelhança, o estímulo ao trabalho e a doação de dinheiro à igreja.
André Mateus Pupin - Primeiro ano - Direito diurno