sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Porque homens não são deuses

            A idealização de modelos de sociedades que acreditam na igualdade concreta entre todos os que destas participariam é algo passível de crítica no âmbito da realização desse ideal, haja vista que a história comprova, pelos fatos, que é praticamente impossível que algum dia vivamos em um meio social onde de fato todos tenham as mesmas vantagens e não se vislumbre nenhum tipo de abuso. Contudo, não é inócuo este idealismo, pois este foi, e continua sendo, de vital importância para a evolução histórica da consciência humana, a nível universal, sobre a existência de direitos inerentes a todos os seres humanos pelo simples fato de o serem.
            Neste ângulo idealista, Hegel sofrera por pensadores que a ele sucederam, críticas ligadas a esse idealismo. Marx se enquadra entre aqueles. E, claro que a observação histórico-concreta da dinâmica social é extremamente importante para a resolução dos atuais problemas sociais e para que novos sejam evitados. Mas valorizar o pensamento de que é possível se estabelecer uma ideia a fim de que esta se torne uma realidade no futuro, é pensar no bem de nossos descendentes.
            Pode-se falar que o idealismo hegeliano tapa o sol com a peneira e que de nada colabora com a realidade. Será? Trazendo o assunto para o atual cenário jurídico brasileiro, tendo 25 anos de promulgação de nossa atual Constituição que contém o belo enunciado “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”, é fácil observar que na realidade existe distinção no dia a dia. Temos, sim, desigualdades resultantes de corrupção, jogos de interesses e vantagens decorrentes de poder e de política etc. Mas, inegável dizer que o Judiciário, pelo menos em parte, vem, pautado nessa observância legal, fazendo valer tal enunciado.

            Homens são homens e no mundo real as lides sempre ocorrerão. Mas a resolução destas parte do pressuposto de que existe um ideal que deve ser tido como meta a se buscar. Se se abandonar o ideal de igualdade entre todos, coisas muito piores irão brotar na sociedade. A teleologia humana é inerente à espécie: agimos conforme os rumos traçados. Se a realidade jurídica vem mudando é porque o pensamento expresso na lei mudou antes. 

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