sábado, 13 de abril de 2013

A droga do progresso

No filme "Equilibrium", a sociedade, após o caos de uma guerra mundial, passa a ser controlada por um regime totalitário. Este cria uma espécie de droga para coibir o sentimento humano: a verdadeira fonte da crueldade. O grande líder dessa nova sociedade, “Pai” tem à sua disposição tal droga que deve ser injetada diariamente no organismo de todos os indivíduos por lei, para inibição de qualquer tipo de sentimentos e suas influências. Analogamente pode-se afirmar que Émile Durkheim converge com um dos aspectos dessa  ficção: a influência do sentimento humano pode tornar-se um obstáculo. Enquanto o filme revela as relações conflitantes, Durkheim defende que esse sentimento obstaculiza a busca pela verdade científica.

A metodologia durkheimiana consiste em analisar fatos sociais como “coisas” para que o objeto da sociologia seja entendido como objeto de estudo tal como o de outras ciências, como a Biologia e a Matemática. É preciso analisar o fato social com distanciamento do sentimento humano, rigidez, objetividade e racionalidade. Para Durkheim o sociólogo deve observar seu objeto “in loco”, o antropólogo deve acompanhar a realidade de povos a serem estudados, e tudo isso para uma compreensão mais precisa e clara.

Além da má influência de substratos passionais da consciência humana, há também a ideia de especificidade social em que Durkheim contrapõe-se a visão comteana. Para Comte toda sociedade converge para o progresso a partir de uma certa ordem, já para Durkheim cada sociedade tem um funcionamento específico que pode ou não caminhar para o progresso. A compreensão da estrutura social é o fator de relevância, e não sob perspectiva universal de progresso. 

Nota-se, pois, a grande possibilidade de que para Durkheim drogas do personagem fictício “Pai” auxiliariam o progresso científico, afinal, distanciariam as influências passionais e impressões individuais vagas do estudo dos fatos sociais.

Daniela N. Corbi - Direito Noturno




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