sábado, 9 de março de 2013

Razão versus alienação


A “liquidez” moderna, discutida pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman,demarca a instabilidade comportamental e demonstra o distanciamento da razão no status quo social. Por meio da influência midiática, cantores e jogadores são idealizados e construídos como heróis para rapidamente serem fadados ao esquecimento. Tal imposição de uma verdade absoluta, deturpadora, que controla boa parte da sociedade é, indiretamente, criticada por René Descartes em seu livro “O Discurso do Método”.
Por meio de tal obra, o filósofo francês assevera sobre a busca da verdade e do conhecimento por meio da razão, casado ao poder da dúvida. Ele tinha o propósito de demonstrar seu esforço para conduzir sua razão combatendo “ideais transcendentais” tais como a astrologia, magia e alquimia. O método cartesiano distancia a verdade das impressões sensoriais, incertezas e defende que os sentidos são falhos e podem ofuscar a racionalidade.
Além da crítica a tais conhecimentos sobrenaturais, Descartes divergia do olhar da filosofia clássica, afirmando que a sua possibilidade de transformação é mínima e a considerando apenas como uma contemplação cujas concepções são facilmente contestadas. Encontrar a verdade nos raciocínios e não confiar na força do hábito livrando-se de enganos e deturpação da razão: estes eram alguns dos fundamentos de René. O filósofo criou uma moral provisória baseada em quatro máximas: a dúvida como meio da busca da verdade ; a fragmentação e especificação do objeto de estudo ; o acúmulo do conhecimento científico do mais simples ao mais complexo ; e a união dos estudos buscando acarretar um conhecimento amplo.
Ademais, este não contestava a existência de Deus, pelo contrário, o caracterizava como o ser mais racional capaz de criar o homem. Ou seja, a busca da verdade é um caminho de aproximação com esse “Ser Maior”. Enfim, quais as consequências dessa metodologia? Podemos destacar a crítica atual da especificidade excessiva, um dos princípios do método cartesiano. Infelizmente, diante desse contexto, pode-se concluir uma certa alienação: diversas escolas são preparadoras de futuros operários fabris, o conhecimento é restrito, docentes reproduzem conhecimento e raramente há reflexões entre os discentes. Afinal até quando haverá essa “maquinização humana” e influência fordista?
Nota-se, pois, que apesar do distanciamento temporal, a relação e importância do ideal cartesiano em nossa atualidade, em que a fluidez e maleabilidade social é palpável, é relevante. Interesses lucrativos midiáticos devem ser submetidos à razão para que não se tornem verdades absolutas e indestrutíveis. Descartes – o pai da filosofia moderna foi peça essencial para acúmulo do saber e para diferenciação entre falso e verdadeiro.
 
Daniela Nogueira Corbi - Direito noturno

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