segunda-feira, 11 de março de 2013

O alcance da verdade sob a herança barroca


Conceber um novo conhecimento consiste não só em absorvê-lo para obter sua compreensão, mas sobretudo em questioná-lo para atingir a sua veracidade. Em defesa desse paradigma, Descartes inaugura em “Discurso do Método” a modernização da filosofia, mas também inova ao propor um novo caminho para concepção da verdade oposto à mera aceitação dos dogmas estipulados pela sociedade feudal na qual se inseria. Analogicamente, hoje a persistência de uma conduta moral pré-estabelecida a ser seguida atribui aos homens o mesmo conflito pertinente à época de Descartes: ainda que dotada de maior liberdade de expressão, a sociedade atual é inserida num constante conflito entre o impulso de exercer suas próprias vontades e o anseio de uma repressão futura vindo de forças sobrenaturais. Este caráter barroco, ainda presente atualmente, atribui à oposição de ideias a dificuldade de obter a verdade por essência. Tal oposição é revelada a partir dos diversos caminhos existentes até o verdadeiro, representados na época do autor pelos filósofos que defendiam o entendimento pleno a partir dos sentidos. Hoje, porém, as diversas fontes que transmitem informações e a facilidade em distorcê-las apontam para a permanência da necessidade da contestação. A dúvida constante, não só nos afasta do falso e duvidoso, como também nos auxilia na elaboração dos próprios pensamentos e questionamentos acerca de tal fato, encaminhando-nos a uma concepção individual que nos afasta das outras pré-estabelecidas.
                Como caminho para a verdade, o duvidar nos torna humanos , mas priorizar a dúvida afasta o homem da perfeição. Ora, duvidar revela a fraqueza humana ao conceber o verdadeiro por essência, tornando-nos imperfeitos se comparados àquele que nada duvida por ser naturalmente inerente à verdade original. Somente um ente superior à nossa espécie poderia eliminar a etapa primordial da dúvida como caminho para a verdade. Sob essa ótica, Descartes atribui a Deus a incorporação do “ser perfeito”, aproximando-se novamente do senso comum entre as populações ocidentais.
                Como diferenciação entre a espécie humana e o “ser perfeito”, a frase “Penso, logo existo” não apenas condiciona a existência humana à sua capacidade de pensar, mas também dá destaque ao uso da razão a partir da utilização da mente como constante busca da verdade a fim de estabelecer o ser. Se o duvidar nos torna humanos, o pensar concretiza nossa existência a atribui ao uso da razão o fator principal na incansável busca pela verdade.

Luisa Loures Teixeira - Direito Diurno

Nenhum comentário:

Postar um comentário