domingo, 10 de março de 2013

DESCARTES E A VERACIDADE UTÓPICA


A obra “Discurso do Método” de René Descartes introduz, indubitavelmente, as diretrizes do pensamento racionalista e, portanto, rompe com os alicerces que mantinham a ideia de que o conhecimento poderia ser adquirido e assimilado como absoluta verdade sem, anteriormente, ser questionado.
O método cartesiano se faz tendo como pilar central a própria razão. A utilização do pensamento racional é encarada como a principal ferramenta para que se atinja a verdade, entretanto Descartes afirmava que não era conveniente que se começasse tudo do zero, devia-se utilizar os conhecimentos anteriormente adquiridos e encarados como moderados e sensatos como ponto de partida.
Nota-se que a trajetória do método cartesiano utiliza a dúvida como instrumento para estimular o uso da razão, afinal colocando em questionamento qualquer conhecimento que seja apresentado faz-se uso do pensamento racional para que se assimile se há ou não veracidade neste.
Todavia a noção de verdade passa a ser extremamente interessante a partir da obra de René Descartes, já que se explicita o fato de a verdade ser mutável de acordo com o tempo. Outrossim, a própria razão pode alterar-se de acordo com o movimento do relógio das épocas, afinal se fosse dito há seiscentos anos atrás que uma mulher teria de guardar-se em casa para seu homem e não desfrutaria de equidade de direitos não se notaria nenhum espanto, todavia se a mesma assertiva fosse feita na sociedade contemporânea haveria, no mínimo, um povo revolto.
Estando a verdade passível de mudança com o correr da estrada do tempo percebe-se que o homem procura, nada mais, do que uma utopia. A ciência procura uma verdade que seja incontestável, todavia até a própria Madama Veracidade troca suas vestes de acordo com a ocasião temporal que frequenta. Portanto, indaga-se, para que serve todo o questionamento, todo pensamento racional? Pra que a dúvida?
Assevera-se que a dúvida serve como força motriz para que os pés da humanidade continuem percorrendo a estrada que há de deixar os homens mais próximos da verdade, o Método Cartesiano serviu, principalmente, para retirar o homem da inércia intelectual e colocá-lo no caminho do desenvolvimento, no caminho das questões, pois ao estimular o indivíduo a perguntar, Descartes fez com que ele andasse.       
Talvez seja impossível negar que o chegar até a verdade seja um ato utópico, todavia o caminho para este é extremamente necessário ao desenvolver do homem. Chega-se ao epílogo deste aglomerado de palavras utilizando a incrível mente de Eduardo Galeano buscando, assim, exprimir melhor o que se queria elucidar..
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Pra que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
Um brinde à utopia, um brinde à ciência


Lucas Oliveira Faria - Direito Noturno 

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