sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mídia Satânica e o Espírito de Jonas


Aos 14 anos, órfão de mãe e criado pela avó, Jonas sabe bem o que é trabalhar. Sua mãe morreu quando ele tinha 8 anos, e como era abandonado pelo pai, o qual ele mal conhecia e se restringia apenas a receber os valores mensais de uma pensão miserável, acabou sendo criado pela sua avó, que era solteira porque seu marido a abandonara quando engravidou da mãe de Jonas. Pois bem. Aí vai a história de um garoto iluminado que nasceu no país errado.

Desde antes da morte de sua mãe, Jonas já apresentava traços de um grande dom: era um ótimo desenhista. Quando novo já desenhava cenas e dominava bem as noções de sombra, espaço e toda uma técnica que nunca fora estudada. Sua escola não lhe dava o mínimo necessário para que ele pudesse ter uma carreira acadêmica. Jonas sabia que se quisesse sair do meio do Bartira, no meio da Zona Leste de São Paulo, não poderia contar com o apoio de sua escola.
Onde é que Jonas mora ? Afinal, qual a probabilidade de que em Bartira, no meio da Zona Leste de São Paulo, onde os professores recebem migalhas para dar uma aula, e o saneamento básico é precário, Jonas tenha ao menos o mínimo necessário para uma formação satisfatória ? Pois bem. Mas Jonas era esperto. Na adolescência ele resolveu investir no seu dom. Resolveu fazer tatuagens, mas para isso precisava fazer um curso e comprar os materiais específicos. Jonas precisava de uns 2 mil reais, que sua avó jamais conseguiria arranjar tendo em vista que ganhava metade de um salário mínimo por mês do Estado. Jonas ganhava um salário mínimo trabalhando 10 horas por dia num restaurante fast-food. Jonas só queria o necessário. Mas as coisas pareciam melhorar. Jonas recebera uma oportunidade...

Na rua onde morava, havia tráfico de drogas diariamente. Recebeu a oportunidade de enviar certa quantidade de droga a um consumidor e recebeu por isso 100 reais. Num simples gesto destes, em pouco tempo, ganhou o que ele ganharia em 50 horas de trabalho pesado na lanchonete. E aos poucos foi juntando dinheiro que ele usaria para seu ofício. Mas, como pode-se prever, um dia o azar teve sorte, e Jonas foi parar numa penitenciária, condenado a 5 anos de prisão.

Na prisão, o garoto de 18 anos dividia sua cela de uns mesquinhos metros quadrados projetados para 5 pessoas com outros 15 rapazes, presos pelas mais diferentes barbáries. O ambiente insalubre, a falta de higiene; a vida do garoto fora transformada da noite para o dia. Era uma esperança que morrera. E Jonas não era o único. Na prisão, outros como ele pensavam que absurdo era a desigualdade e como eles eram tratados como lixos sociais; como eram desprezados e jogados como se não tivessem valores ou dons. E pensavam em quão grotesco é o sistema penal e carcerário do Brasil: eles queriam melhores condições sociais. Queriam o necessário. Se organizaram numa época propícia, e montaram um contra ataque.

O ataque na verdade era uma defesa. Um instinto de vingança de eliminar o que é mau. Reprimiam aqueles que os reprimiam. Parecia uma guerra de repressão. Assim, membros de uma determinada facção reprimiam membros do executivo do Estado, e estes, não com menos violência, reprimiam a facção. Mas há de se analisar duas visões distintas. A primeira é a daquele que tem um irmão encarcerado e sabe bem o que é reclamar por melhores condições sociais; a segunda é a do Estado, que tem função constitucional de promover melhor igualdade e tratar desigualmente aquele que é desigualmente oprimido. E a mídia, numa linha totalmente tendenciosa, faz com que a opinião que gire é de que o Estado dá muita proteção ao bandido. Monta fotos em que a impressão aparente é de que o cidadão preso tem uma comida de excelência quando comparada com uma merenda escolar. E dessa forma, totalmente surreal, forma-se a opinião pública de que o bandido além de ser um mau, gera custos. Bom seria se ele estivesse morto. E daí pouco importa se para que ele tenha que morrer, morra também toda uma comunidade de gente carente. Essa grave ameaça, a busca por igualdade social, esse temor irreversível cuja única solução aparente é a morte, deve ser extinta sob pena de acabar com a nossa solidariedade mecânica. Vamos eliminar esse cidadão. Jonas merece morrer. E sua morte fora decretada humilhantemente pelo Estado... O cidadão aprova.

Mas apesar de sua morte, decretada por aqueles que acreditam em valores e crenças religiosas, Jonas está vivo em espírito. Pelo menos é o que se pode deduzir a partir daqueles que acreditam na ordem religiosa e decretaram o assassinato do jovem. Bom. Na opinião destes, provavelmente Jonas está no Inferno. E como se pode deduzir a partir da ideia de espírito infernal, Jonas provavelmente continuará a infernizar a vida daquele que quer explorar. E esse mau, essa busca pela igualdade social, a busca pelo necessário, será espiritualmente transferida de volta para a comunidade de Bartira. Não adianta matar. E só que se procura é o necessário. Somente o necessário...



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