segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"Admirável Mundo Novo"



“(...) A antirrazão do capitalismo totalitário, cuja técnica de satisfazer necessidades, em sua forma objetualizada, determinada pela dominação, torna impossível a satisfação de necessidades e impele o extermínio dos homens – essa antirrazão está desenvolvida de maneira prototípica no herói que se furta ao sacrifício sacrificando-se. A história da civilização é a história da introversão do sacrifício. Ou por outra, a história da renúncia.(...)” (Adorno e Horkheirmer, Dialética do Esclarecimento, p.54)
 
Weber não é um defensor da burocracia e nem defensor da racionalização atrofiada da sociedade, ele apenas busca identificar e analisar alguns aspectos no mundo moderno. A burocracia, então, é a profissionalização do Estado no sentido de desvinculá-lo dos interesses pessoais, o engraçado é que esse termo é popularmente conhecido no Brasil por demora, incompetência, “enrolação”.
Sob um ponto de vista, pode-se considerar que a burocratização começou a surgir de forma mais forte a partir da Revolução Industrial. Com esse fenômeno houve o êxodo rural e o início do desenvolvimento maciço de tecnologia que daria frutos ao que chamamos hoje de meio técnico-cientifico-informacional e globalização. Assim, apesar da produção ser pautado por um certo “racionalismo”, lógica, desenvolvimentismo, e a sociedade ser pautada por um certo formalismo cheio de preceitos e formas as relações interpessoais se caracterizam por uma série de contradições que tentam desumanizar certos caracteres humanos: “Na Cidade findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; rico e superior como um Jacinto, a sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, prazer, ritos, serviços mais disciplinares que os dum cárcere ou de um quartel... A sua tranqüilidade [...] onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar — e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na cidade se desumanizam!” (A Cidade  e as Serras – Eça de Queirós)
            De tal modo que na sociedade moderna a racionalização torna-se instrumental. O sujeito apenas quer buscar o poder, a fama, o prestígio sem se atentar ao meio de se conseguir isso, as artes, por exemplo, que em tese são grandes maneiras para aflorar o conhecimento e a análise crítica, acabam se tornando mais uma ferramenta de manobra para controlar e deter a opinião das massas, do povo. A televisão e as revistas atualmente são uma prova de quantos tais meios de comunicação, “cultura” e “arte” engessam o pensamento e uniformizam e enquadram as pessoas como os “alfas” e “betas” já alertados em Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Ou seja, a incogruência nessa estória toda consiste que uma forma de produção e tecnologia  que prometeu o despertar do conhecimento e do raciocínio lógico,  foi apenas capaz de mecanizar o ser humano.

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