segunda-feira, 3 de setembro de 2012

TUDO poderia ser ter sido evitado se não fosse TUDO

"Discurso de Ódio não é Liberdade de Expressão"
"De praxe, aqueles que desejam obter favores de um Príncipe apresentam-se a ele os pertences que lhe são mais caros e à vista dos quais vêem que ele mais se encanta". Assim começa o livro de Maquiavel de título não menos dito, mas de conteúdo não mais conhecido nos corredores daquele hospital de códigos, o qual chamamos de corredor do Direito.
O que teríamos nós estudantes, para oferecer ao Príncipe? O CIVI (Curso de Introdução à Vida Intelectual) teve coragem, e assim ofereceu, seduziu e cortejou o estimado membro da tão generosa família real braZileira. Os estudantes da Unesp teriam os ouvidos, em nome da liberdade de expressão.
A presença do Príncipe é sim inadmissível dentro da Universidade, e não por que ele é monarca, conservador, ou tucano. Esses são os motivos pelos quais não gosto dele. Mas isso não vem ao caso, já que também não gosto de Olavo de Carvalho, José Serra, e é inegável a validade destes para dentro do espaço universitário. A presença de Bertrand é inadmissível e tenho profunda vergonha de um diretor que se responsabilize por isto na medida em que a Universidade é o espaço da democracia, do outro, do alter. E dentro desses "limites" é o espaço para a construção da liberdade de expressão, do debate, da divergência, da discordância, da síntese. Todavia esses pressupostos dos direitos humanos e da dignidade da vida humana não são limites, mas horizontes em que se debruça o projeto de democracia estabelecido em nossa constituição.
Quem quer ouví-lo, que acesse seu site como eu já fiz por várias vezes, mas a Universidade e principalmente estudantes do Direito não podem tolerar essa afronta ao exercício do saber como algo que expanda os horizontes de libertação da humanidade. Essa é a "missão" da Universidade, quem discordar pode participar da Maçonaria, Rotary Club, milícias, ou qualquer outro espaço que não tenha em seu cerne os valores da democracia e do respeito à vida do alter, do outro.
Nesse sentido, o impedimento de fala de Bertrand fortalece a Liberdade de Expressão, já que o suporte de sua fala já nega apriorísticamente a existência de uma serie de grupos, como descendentes de escravos, indios, homossexuais, e trabalhadores.
Liberdade de Expressão não é "ouço quem eu quiser, quando e onde eu quiser", isso é uma distorção liberal deste conceito muito presente na boca dos estudantes. Este conceito fora elaborado a duras penas pelos lutadores que hoje NÃO admitem as falas de ódio e de negação do outro. Não sabe disso quem não compartilha cotidianamente desta luta e na hora "em que o bicho pega" usa desta bandeira para legitimar sua fala marcada de SENSO COMUM.
Acho por fim, como já me coloquei, que foi equivocada a implosão do evento. Mas é muito cômodo para mim falar de fora, ainda mais quando isso aconteceu em decorrência de provocações. Lamento mas entendo a implosão do evento.
Mas este homem, assim como pessoas representantes de discursos de ódio, jamais deveria ter sido cogitado em nossa Universidade. É uma afronta aos princípios nos quais nos criamos e estabelecemos.
Acho que esse evento seria evitado se houvessem mais negros, mais camponeses, mais índios e descendentes de escravos na nossa universidade. Por que parece ser difícil para nós brancos de classe média se revoltar diante da defesa do extermínio do outro que não somos nós. Mas infelizmente, as mesmas pessoas capazes de defender a vinda de um algoz dos direitos humanos são as pessoas e os grupos que no poder não instituem políticas afirmativas na nossa universidade.

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