segunda-feira, 3 de setembro de 2012



O PERIGO DA TALEBANIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE BRASILEIRA

 
A universidade pública brasileira corre perigo; não porque há falta de verbas, professores e infraestrutura, embora isso também seja verdade, mas porque o risco do autoritarismo ideológico está presente e ameaça o futuro do livre debate no lugar em que o pluralismo, a tolerância e o direito à diversidade deveriam imperar incontestavelmente. Corre perigo porque esse espaço de produção acadêmica não deve sucumbir ao unilateralismo político; se somente uma visão, um grupo, possui poderes para estabelecer quem pode e quem pode se expressar sem censura, cria-se um precedente em tons kafkanianos; primeiro, proibi-se uma palestra, e depois?Proibir-se-á um grupo de extensão? Um programa curricular divergente? Proibir-se-á um professor que for contra a vertente hegemônica?Aquilo que começa como um simples ato impulsivo de paixões políticas pode se transformar na energia vital para que se institua uma solidariedade mecânica de repressão ao contrário, à alteridade. A universidade  ,ainda, deve defender suas origens latinas remetentes á Idade Média.O termo universidade deriva da expressão universitas magistrorum et scholarium  que significa “comunidade de professores e acadêmicos”.Se discute-se , então, o livre debate dentro de uma universidade deve-se , incondicionalmente, defender o status da instituição como comunidade.Assim, ignoram-se as paixões, resgata-se a racionalidade, produz-se conhecimento.

E o conhecimento não pode, sob qualquer hipótese, ser produzido em um ambiente repressor. O poder reacionário de repressão por parte da burocracia, dos discentes e docentes não deve, jamais, impedir a liberdade de expressão, o direito à opinião divergente, o direito a valores contrastantes dentro da universidade. Se o Brasil avançou socioeconomicamente nos últimos 20 anos foi porque procurou-se proteger , defender e promover a diversidade nas mais variadas possibilidades.O país, “um país de todos”,deve lutar para que a universidade continue sendo um espaço para o debate, para a tolerância, para a diferença.A partir do momento  que tais valores forem perdidos, deixaremos de viver em um país plural e teremos que nos acostumar com a TALEBANIZAÇÃO repressora ; é em lugares como o AFEGANISTÃO em que reprime-se com força, fanatismo e radicalismo aquilo que for antagônico.
A universidade pública brasileira, portanto, tem que resistir às pressões talebanizadoras de certos grupos intrínsecos a ela. A universidade deve ser universal, deve buscar resgatar sua origem latina, deve inibir o impedimento ao convívio de facções divergentes, deve estimular o convívio entre cursos, classes sociais e indivíduos distintos. Uma universidade que ambicione reconhecimento mundial, que anseia por respeito internacional por parte da comunidade acadêmica e por estudantes de todo o mundo deve pautar-se na ciência para gerir o presente e olhar para o futuro. A ciência, inquestionavelmente, surge como a pauta, o bastião, o alicerce para o crescimento acadêmico de todos envolvidos na universidade; paixões datadas não podem neutralizar a racionalidade. A universidade pública brasileira, em suma, pode e deve resistir às tentativas de TALEBANIZAÇÃO de seu espaço; no entanto, ainda não há qualquer previsão de quando Hugo Chávez, Amahjinedad, Geraldo Alckmin, João Pedro Stedile, ACM Neto, e tantos outros, poderão palestrar livremente sem serem alvo de ameaças, insultos e ataques ideológicos.

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