terça-feira, 4 de setembro de 2012

Durkheim e o "Príncipe"


Em uma análise à sociedade atual com base nos estudos de Durkheim, nota-se que devido à sua maior complexidade e interdependência de seus ofícios, a solidariedade orgânica é a predominante. A sociedade funciona em analogia a um organismo, que se encontra em estado de equilíbrio quando todas as suas funções – interdependes – funcionam em harmonia.
Para Durkheim, a consciência coletiva pertencia às sociedades pré-modernas, nas quais predominou a solidariedade mecânica devido à sua união por crenças comuns, que norteavam a preservação social de acordo com respostas a impulsos externos. Na sociedade moderna, as diferenças se sobressaem, e são responsáveis pelos conflitos que põem em risco o bom funcionamento do organismo social.  Mas será que a consciência coletiva, estudada por Durkheim, permanece no passado?
Não é preciso folhear muitos jornais para encontrar casos de linchamentos, ou de qualquer violência por parte de uma turba enfurecida, sedenta por justiça, que não a dos tribunais. Há poucos dias a nossa faculdade foi o palco de uma grande demonstração da força da consciência coletiva tomada pela cólera da contradição. A atitude de uma parcela de alunos mostrou que a consciência social estudada por Durkheim nos círculos sociais primitivos ainda tem grande expressão em uma sociedade que se diz desenvolvida. Essa sociedade contemporânea que supostamente deveria se guiar pela racionalidade, ainda abre espaço para a passionalidade de alguns indivíduos.
A consciência coletiva é movida pelas paixões, pelo sentimento de defesa da coesão social frente ao que se posiciona contrariamente ao equilíbrio local. Analisando o ocorrido da última semana, a manifestação tomou proporções indesejadas por se munir das paixões, por se fortalecer pela consciência social que lutava contra um ideal potencialmente ofensivo à ordem defendida pelos manifestantes. O que a sociedade racional moderna não pode permitir são as proporções atingidas pelo manifesto. Aqueles que lutavam tem razão pelos seus ideais à medida que defendem as minorias oprimidas, mas perderam a razão ao clamar por liberdade de expressão e democracia e, contraditoriamente, calar um indivíduo e suprimir a exposição de ideias. Seguindo a lógica da visão durkheimiana, uma turba tomada pelas paixões agiu conforme a consciência coletiva do grupo que se identifica e impôs suas paixões aos demais como uma forma de restaurar o equilíbrio social anterior. Quando o equilíbrio do organismo é ameaçado, a sociedade se une para reprimir a ameaça, eliminando a patologia.
É evidente, assim, que a consciência coletiva estudada por Durkheim ainda se faz presente atualmente, e os exemplos não são tão distantes. Apesar de as sociedades modernas conservarem esse aspecto da sociedade primitiva, a solidariedade existente nos dias de hoje é predominantemente a orgânica, e isso ocorre devido às diferenças que compõe os círculos sociais. São essas diferenças que enriquecem as culturas, dinamizam a sociedade e unem os indivíduos pela interdependência. Durkheim se enganou ao acreditar que as sociedades modernas estavam livres da consciência coletiva: não que ela seja um mal, só precisa ser melhor administrada – ou racionalizada - para evitar repressões tão ou mais violentas quanto os atos repreendidos.

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