segunda-feira, 17 de setembro de 2012


“Dos males, o menor” é um daqueles ditados que parecem fazer sentido na vida. Oras, de todas as coisas ruins que podem acontecer, escolhe-se a que traria menor dano. Nesse sentido caminha nossa sociedade, ainda mais quando nos dispomos a ponderar graus de importância inclusive na aplicação da justiça.
No entanto, quem define o que é o menos ou o que é o mais? Isso tudo implica um juízo de valores e juízos de valores são sempre perigosos. Afinal, são construídos a partir de vivências individuais, ou de similaridades de um determinado coletivo. Mas valores não são universais nem atemporais, são resultado de determinado tempo e espaço, o que os torna difíceis de aplicar sumariamente.
No evento da palestra do Sr. Bertrand de Orleans e Bragança na UNESP – campus Franca, foi possível se observar uma faceta desse fenômeno: Em determinado momento histórico, o palestrante teria suas palavras bem recebidas; mas naquele momento e naquele local, um grupo decidiu que aquele discurso era inadequado e assim, agiu conforme pensou conveniente. Pergunta-se: Ainda que a implosão do evento tenha trazido algum mal-estar ao palestrante, porém pouco construtivo; permitir que este fizesse sua palestra e rebater seus argumentos não seria mais adequado e traria resultados mais interessantes? Quem define o que é mais adequado? Quem define o que pode e o que não pode ser dito?!
Num exemplo mais amplo, vãos à questão do aborto: a descriminalização do aborto em caso de fetos anencéfalos é uma vitória para os movimentos feministas. É alguma justiça sendo feita, antes poder abortar um feto incapaz de manter-se vivo do que ter que a gestante ser obrigada a gestá-lo conta sua vontade. Ainda assim a batalha não acabou, é preciso lutar por mais direitos femininos, inclusive o do mando sobre o próprio corpo. Afinal, quem define se a mulher é soberana sobre o próprio corpo ou não?
Alguma justiça é melhor que nenhuma justiça? Sim, mas isso não quer dizer que tenhamos que nos contentar com pouco ou tomar atitudes às pressas e sem pensar. Justiça é um ideal, um conceito, portanto é mutável. O mais justo e menos justo varia conforme o observador.
Penso que na fronteira entre o moral e o imoral a uma linha bem tênue e por isso é preciso tomar muito cuidado para não se aplicar sanções rígidas em excesso. A justiça é cega, porém deve ser racional... Antes um pássaro na mão do que dois voando.

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