segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Homo instinctu


O ser humano sempre se pautou pelo seu racionalismo, utilizando-se disso como subterfúgio para mascarar seus instintos mais primitivos. Inúmeras exemplificações poderiam ilustrar esse aspecto animalesco do ser humano, como por exemplo, o caso Geisy Arruda, no qual a mesma necessitou ser escoltada por policiais para sair da sua faculdade, pois tornou-se um alvo vulnerável frente à milhares de estudantes que a julgaram por um mini-vestido rosa. Porque programas como “Brasil urgente”, que restringem-se a externar casos de violência de modo sensacionalista, apresentam alta audiência?
Sob o âmbito psicanalítico, Freud desenvolve o conceito de id, "nós chamamos de (...) um caldeirão cheio de axcitações fervescentes. [O id] desconhece o julgamento de valores, o bem e o mal, a moralidade" (Freud, 1933, p. 74). Diante disso, percebe-se nitidamente que os ímpetos humanos, mesmo que inconscientes, manifestam-se nessa espécie que se julga tão superior.
Sob o âmbito sociológico, destaca-se com maestria Durkheim em sua obra “A divisão do trabalho”, no qual desenvolve importantes conceitos almejando compreender mais profundamente os padrões de conduta humana. O cerne alicerça-se na solidariedade mecânica e a orgânica.
Durkheim define a solidariedade mecânica como uma premissa presente nas sociedades pré-modernas, no qual a conduta social é norteada por autoridades transcendentais, majoritariamente legitimadas pela religião. A máquina jurídica é impulsionada pelo caráter punitivo, no qual o crime é visto com um aspecto meramente excludente e não ressocializador. Cabe uma ressalva, pois essa análise explicita uma ótica positivista, severamente criticada por antropólogos, pois julgam superficial tal análise.
A solidariedade orgânica reflete os anseios das sociedades pós-modernas, estabelecendo a racionalidade como pilar central no julgamento dos comportamentos sociais, além de almejar-se a impessoalidade. Todo o aspecto punitivo anteriormente mencionado substitui-se por normas jurídicas restitutivas, retratando os criminosos e delinquentes como seres enfermos de um corpo social maior e que necessitam ser sarados.
Uma grande falácia seria a retratação da sociedade moderna como pautada exclusivamente pela solidariedade orgânica. De acordo com dados recentes divulgados pelo NEV(Núcleo de Estudos de Violencia), a maioria da população de 11 capitais brasileiras defende a pena de morte ou prisão perpetua para estupradores( 73,8%), o que reflete novamente a intensa presença da solidariedade mecânica que sempre estará arraigada, não podendo ser contida,mas somente amenizada. Portanto, o tão louvado Homo sapiens poderia ser substituído por um Homo instinctu.




       

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