segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fantoches


A apresentadora de TV Maísa, como é conhecida, em meados de 2009 foi protagonista de uma ação judicial movida pelo Ministério Público contra o empresário Sílvio Santos, já que em seu programa a menor – então com cerca de seis a sete anos de idade – foi exposta a situações de pânico vexatório que chegaram a comprometer sua integridade física.
                O caso, de repercussão nacional, chamou a atenção para uma situação que já fora discutida há décadas: o capitalismo incorporando crianças como força de trabalho.
                Já no século XIX, Karl Marx fazia referência à adequação de crianças à produção capitalista. O autor ressaltava que a mão de obra infantil era mais barata já que dispunha de menor força, mas força suficiente para realizar os serviços necessários em determinadas produções.
                Guardadas as devidas proporções, o capitalismo contemporâneo, que se veste de um humanismo lucrativo, continua se utilizando de mão de obra infantil partindo de um princípio similar ao de que trata Marx séculos atrás: muita vez é a mão de obra infantil a que melhor se adequa à geração de lucro para o capitalista, de forma que sua força é preferida ao desperdício da de um homem adulto.
                É evidente que em casos como o supracitado a mão de obra infantil não substitui, para a renda familiar, a mão de obra do homem e mulher adultos, gerando todo o processo exploratório discutido por Marx. Todavia, parte da mesma lógica de que o trabalho realizado pela pequena mão da criança gera mais resultados do que se se utilizasse uma mão adulta.
                O trabalho infantil desenvolvido por Maísa é apenas um dos casos do emprego desse tipo de mão de obra na contemporaneidade brasileira. Embora seja este um dos casos que consideravelmente menos lesa a criança que trabalha – quando comparado ao trabalho infantil de muitas crianças em condições ilegais de semi escravidão, por exemplo - sua peculiaridade está na aceitação pública que tinha – ao menos até o incidente que levou à ação judicial – e ao respaldo jurídico que possuía,  já que a emissora firmava contrato com os pais da criança.
                Todo o país podia ver Maísa trabalhando e divertia-se com a exploração da imagem de uma criança com pouco mais de cinco anos de idade. Utilizar Maísa em programas de TV tornava-se mais adequado quando se tratava da busca desenfreada por audiência na rede televisiva. E mais uma vez, sob os olhos jocosos da sociedade, uma criança era feita de brinquedo para gerar lucro a um capitalista sob o véu dos trâmites legais. 

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