sábado, 17 de março de 2012


A razão em Pink Floyd 





O uso da razão para se atingir a plenitude intelectual e, até mesmo espiritual, como princípio fundamental cartesiano não está superado, mesmo em um tempo no qual o pragmatismo científico e coletivo questione a verdadeira função da Filosofia. A razão em sua essência, porém não estritamente secular, neutraliza as paixões ligadas aos dogmas religiosos, às tradições e ao senso comum. A partir do momento que o homem se torna fundamentalmente racional há o fim da censura psicológica  e, com isso, os questionamentos se tornam abundantes e cada vez mais ousados; a dúvida passa a ser o imperativo. Com a dúvida surgem as tentações às decepções, à nostalgia, à descrença, ao vazio da existência humana.

Pink Floyd é, indubitavelmente, a representação mais duradoura, ou seja, clássica, da dúvida, da razão levada ao extremo. Sua obra explora e questiona a solidão, a família, a guerra, a existência humana de uma forma universal ainda que intimista. Outros já fizeram o mesmo, mas poucos conseguiram desvendar as cicatrizes, os medos e os sonhos do homem contemporâneo. Uma obra sempre taxada de niilista, de depressiva, que consegue dissecar o subconsciente coletivo com toques psicanalíticos. E isso, sem dúvida, só foi possível devido à crença no poder e na clareza da razão, como acreditava Descartes, para se chegar ao conhecimento e à harmonia. Somente os céticos desfrutam da capacidade de se desvincular de todo um legado cultural, religioso e moral para propor discussões pendentes ao ilimitado e ao desconhecido.

Muitos séculos depois de Descartes, e seu pensamento assim como Pink Floyd, continuam mais atuais do que nunca. O descontentamento cartesiano com a erudição e com a educação tradicional ainda persiste, mesmo com a facilidade de acesso à informação e com o auxílio da tecnologia. O discurso do método, portanto, ainda é um instrumento para o crescimento do homem. A razão, essa que sempre leva a dúvida, é , portanto, um meio seguro para se compreender a atualidade, e isso, não poderia ficar mais evidente do que na obra de Pink Floyd. Aqueles que ainda buscam um método deveriam conhecer melhor Pink Floyd. Se acharem a música perturbadora demais, nada melhor do que fazer uso da razão para lidar com o sofrimento e a irracionalidade do homem.

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