Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
segunda-feira, 28 de março de 2011
O racionalismo cartesiano.
As raízes do rigor racionalista de Descartes
O objetivo de Descartes era de abranger numa perspectiva de conjunto unitário, todos os problemas propostos na investigação científica, sendo que a evidência da própria existência traz uma primeira certeza. A razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento.
Com isso, a ciência, que até então se baseava em qualidades obscuras, a partir do século XVII, torna-se capaz de reduzir o universo a mecanismos mensuráveis, que a geometria pode explicar, eliminando qualquer influência com característica mitológica. Hoje, mesmo que sua visão de mundo apresente sérias limitações, o método que Descartes idealizou, ainda é muito útil na abordagem de problemas intelectuais, possibilitando uma notável clareza de pensamento, o qual proporciona questionamentos sobre a própria origem e visão de mundo.
Cesse tudo que a musa antiga canta
O legado cartesiano
Em tempos de conhecimentos sustentados por aspectos religiosos, místicos e mágicos, René Descartes, em Discurso do Método, evidencia a necessidade dos métodos científicos para a construção do conhecimento, só sendo possível alcançar conhecimento por meio da razão.
Para isso, o filósofo partiu do princípio da fragmentação de conceitos e ideias, com a intenção de atingir verdades primordiais que funcionassem como alicerce para outros pensamentos e verdades. Não satisfeito com os resultados desse pensamento, Descartes fez o oposto. Decidiu que deveria rejeitar tudo aquilo que pudesse propiciar a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso, restaria algo que fosse completamente incontestável. Porém, diante de tantas indagações sem resposta, julgou todo esse incansável ato de pensar como a única certeza sólida e correta, criando então o seu primeiro princípio com a máxima: ‘’penso, logo existo’’.
Com isso, sempre pensando, Descartes criou o hábito da dúvida e passou a questionar ainda mais o mundo e as suas verdades, de forma que o conhecimento se deparava nos mais diversos labirintos. Refletindo daquilo que duvidava, percebeu que o conhecer era mais perfeito do que o duvidar e, se foi possível que chegasse à essa conclusão, concluiu que havia algo mais perfeito que possibilitou à ele tal conhecimento. Conhecimento esse, que só poderia ter sido colocado nas ideias do filósofo por uma natureza que fosse, de fato, perfeita. À essa natureza, Descartes denominou ‘’Deus’’.
E foi assim, defendendo a busca por conhecimentos sólidos embasados na razão e em conceitos concretos e, ao mesmo tempo, considerando uma natureza superior que orienta o nosso pensamento - Deus - que, de forma antagônica, o pensamento cartesiano sustentou suas ideias e proporcionou o advento da evolução da ciência e do homem.
Além disso, assim como Descartes se utilizou do pensamento socrático durante os seus questionamentos, ao negar tudo aquilo que pudesse propiciar dúvidas -‘’só sei que nada sei’’- é fundamental que o mundo contemporâneo se utilize do legado cartesiano, pois muitos dos entraves atuais poderiam ser trabalhados com os conceitos desse filósofo. Em época de tantas diferenças e heterogeneidades, da mesma forma que Descartes concluiu que a fé e a ciência não são opostos, mas se completam, os conflitos e as diferenças da atual conjuntura deveriam seguir essa mesma perspectiva, possibilitando o desenvolvimento não só da ciência, mas também das relações humanas.
"A velocidade é irrelevante quando se vai na direção errada"
Segundo René Descartes, “os que andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam”. É assim, que o filósofo francês, conduz “O Discurso do Método”, orientado pela razão como forma de superar a superstição, a magia e a alquimia na construção do conhecimento.
Para compreender a fundo sua obra é indispensável levar em consideração o contexto histórico no qual ela foi escrita. Um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, onde a ciência e a razão ganhavam força em uma sociedade marcada pelo predomínio da Igreja e a exaltação da fé.
Acreditando ser a razão a única coisa que diferencia homens de animais, Descartes busca verdades e princípios de caráter absoluto e imutável dentro da ciência. Descrente do ensino tradicional, bem como da filosofia baseada na tradição clássica, o filósofo sugere um método quase matemático para conduzir o pensamento humano, acreditando ser este um alicerce firme para a construção de algo sólido. Assim, construir-se-ia tudo, do mais simples ao mais complexo, articulando todas as partes, de forma clara, embasada na razão.
Apesar de sua crítica ao ensino da época, exaltava a aprendizagem das línguas, pois as considerava necessárias ao entendimento dos livros antigos, que eram como conversações com as pessoas mais qualificadas dos outros séculos. Descartes reconhecia assim, a importância da leitura para estimular o espírito, fazer crescer, formar juízo de valor e estimular virtudes. Seu método trouxe inúmeros benefícios para a física, a matemática, e é claro para a filosofia.
Descartes criticava também o conhecimento sobrenatural e duvidava de tudo aquilo que era inculcado pelo hábito. Julgava a dúvida como o princípio fundamental do novo método científico. E em oposição aos outros filósofos, acreditava que a razão era superior aos sentidos na busca pelo conhecimento. Tendo por fundamento o princípio “penso, logo existo”, adotou a clareza como critério de verdade.
Em contraposição à busca do racionalismo como caminho para verdade, segundo Descartes Deus continuava sendo o referencial último do conhecimento, considerado um “ser perfeito”. Assim, caminhando devagar, mas no caminho reto, Descartes lançou as bases do racionalismo, sem romper com a fé cristã, tendo como explicação última do método científico uma fundamentação subjetiva, apoiada em Deus.
O Império do Saber
As idéias teocêntricas e antropocêntricas, comumente analisadas como opostos, formam, na verdade, um elo a partir do Discurso do Método de Descartes. O pensador propõe a soberania do saber, da ciência, do conhecimento, não rejeitando, todavia, a existência de um Deus perfeito.
Para que isso fosse possível, era preciso abolir os pensamentos supersticiosos e mágicos da época, como a Astrologia e a Alquimia. Afirmava que a razão científica era essencial, e que a sua verdade era obtida a partir das dúvidas dos seres humanos, o que alimentaria a sede pelo descobrimento de novos conhecimentos, e tornaria claro, assim, verdadeiro o que há, de fato, os cercando. Adicionalmente, era contrário ao pensamento filosófico, que julgava como verdade o que já havia sido percebido pelos sentidos, se opondo, assim, à existência de Deus.
De fato, Descartes trouxe à tona algumas das formas de percepção vistas até hoje, visto que grande parcela da população acredita fielmente na, hoje, chamada ciência, mas não se desapega à existência de um Deus, não perde a fé, e segue doutrinas religiosas.
Diante de tudo, uma conclusão (aos olhos de Descartes) pode ser tomada: a ciência e seus métodos de busca de conhecimento se fazem indispensáveis, e não podem ser influenciadas por conhecimentos alheios à clareza da verdade ou a crenças religiosas. Contudo, a existência da perfeição, ligada substancialmente a Deus, não deve ser contestada, apesar de os seres humanos tentarem alcançar, sempre, e até hoje, tal feito.
Descartes e seu Método
Em seu Discurso do Método, René Descartes vai demonstrando como ia utilizando de forma prática e objetiva (matemática) o seu modo de buscar o conhecimento, através do raciocínio dedutivo. Partiu das dúvidas iniciais sobre a existência do homem e depois, de Deus. "Penso, logo existo" é uma frase célebre de seu trabalho. Marcou de maneira decisiva o caminho que a Ciência adotaria após sua morte.
Em seu trabalho é importante notar que apesar da constatação do homem como corpo e espírito, ele descarta o uso da emoção na concepção do conhecimento. Além disso, o seu método pode ser tido como oposto ao Empirismo, defendido por seu contemporâneo Francis Bacon e que se baseia no raciocínio indutivo. Isso nos leva a perceber que seu método pode fracasssar diante de algumas situações cotidianas. Inclusive o próprio Descartes nos previne em sua obra de que o seu método não é um modelo, que pode ter falhas e isso acaba o eximindo de culpa.
Por fim, embora haja muitas correntes que discutem a produção de conhecimento, o Método ainda hoje é amplamente difundido por conter ricas ideias sobre o bom senso, por exemplo, e sua contribuição para o desenvolvimento da Ciência, a qual denominamos Moderna, é consagrada na História do Homem.