segunda-feira, 28 de março de 2011

O racionalismo cartesiano.

Em sua obra “O Discurso Sobre O Método”, de 1637, René Descartes discute o conhecimento e os meios de obtê-lo. No contexto do renascimento rompe com os padrões da Filosofia Clássica. Tendo por base o racionalismo, questiona a veracidade das coisas e as maneiras convencionais de alcançar a sabedoria. Opõe-se ao conhecimento transmitido pelo hábito e baseado em sentimentos, crendices populares ou misticismos.
 Propõe que para chegarmos a uma verdade, temos que questiona-la e explica-la baseados na razão, que é igualmente presente em todos os homens, deve-se para tanto privar-se de filosofias especulativas ou experimentalismos. Cita alguns princípios para alcançar a razão científica, como evitar precipitações e presunções, dividir ao máximo as dificuldades para melhor serem analisadas e iniciar o estudo por assuntos mais fáceis para atingir, gradativamente, os mais complexos. Tinha a ideia de que a ciência deveria ser um bem para os homens, sendo útil a vida cotidiana e ajudando o ser humano a domar e modificar a natureza.
Quanto a existência de Deus, Descartes tinha-a como verdade absoluta. Tenta provar a existência divina na noção de perfeição. Vê em Deus o último referencial do conhecimento.
Os escritos de Descartes foram de suma importância para o desenvolvimento científico humano, e deu bases a filosofia moderna.  Ao refletimos, nos dias de hoje, sua obra vemos a importância dessa noção inicial de separação de ciência e censo comum, que é por muitas vezes errôneo e retrógrado. Vemos também a importância da dúvida para o conhecimento.
Contudo, muitos discordam com seu método no que diz respeito a falta de experimentalismo inútil. Outra questão que a leitura nos remete é a da existência divina e da coexistência da ciência e da religião, que hoje, são vistas com certo antagonismo.

As raízes do rigor racionalista de Descartes

A partir do livro “Discurso sobre o método”, René Descartes revoluciona todos os campos do pensamento da época com o desenvolvimento do método cartesiano. Este método seria um instrumento, que bem manejado levaria o homem à verdade, colocando em dúvida tanto o mundo das coisas sensíveis quanto o das inteligíveis, ou seja, consiste em aceitar apenas aquilo que é irrefutável e consequentemente elimina todo o conhecimento inseguro ou sujeito a controvérsias.

O objetivo de Descartes era de abranger numa perspectiva de conjunto unitário, todos os problemas propostos na investigação científica, sendo que a evidência da própria existência traz uma primeira certeza. A razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento.

Com isso, a ciência, que até então se baseava em qualidades obscuras, a partir do século XVII, torna-se capaz de reduzir o universo a mecanismos mensuráveis, que a geometria pode explicar, eliminando qualquer influência com característica mitológica. Hoje, mesmo que sua visão de mundo apresente sérias limitações, o método que Descartes idealizou, ainda é muito útil na abordagem de problemas intelectuais, possibilitando uma notável clareza de pensamento, o qual proporciona questionamentos sobre a própria origem e visão de mundo.

Cesse tudo que a musa antiga canta

Descartes prega que para atingir a verdade deve-se, antes de tudo, duvidar. Duvidar de conceitos que surjam ou de conceitos pré-estabelecidos, mesmo que estes representem tradições tidas como verdadeiras.

Existem conceitos enraizados em nossa sociedade há muito tempo e que são passíveis de questionamentos. Alguns deles já têm deixado de existir, como por exemplo o de que o homem é um ser superior à mulher. Contudo, muitas pessoas ainda precisam duvidar de muitas "verdades", como nos provam as notícias relacionadas a racismo, homofobia, intolerância religiosa, xenofobia, entre outras.

Se considerarmos que adotando o método proposto por Descartes chegaremos à verdade absoluta, ainda precisamos duvidar mais e seguir no caminho da racionalidade buscando extirpar verdades relativas tão antigas e prejudiciais.

O legado cartesiano

Em tempos de conhecimentos sustentados por aspectos religiosos, místicos e mágicos, René Descartes, em Discurso do Método, evidencia a necessidade dos métodos científicos para a construção do conhecimento, só sendo possível alcançar conhecimento por meio da razão.

Para isso, o filósofo partiu do princípio da fragmentação de conceitos e ideias, com a intenção de atingir verdades primordiais que funcionassem como alicerce para outros pensamentos e verdades. Não satisfeito com os resultados desse pensamento, Descartes fez o oposto. Decidiu que deveria rejeitar tudo aquilo que pudesse propiciar a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso, restaria algo que fosse completamente incontestável. Porém, diante de tantas indagações sem resposta, julgou todo esse incansável ato de pensar como a única certeza sólida e correta, criando então o seu primeiro princípio com a máxima: ‘’penso, logo existo’’.

Com isso, sempre pensando, Descartes criou o hábito da dúvida e passou a questionar ainda mais o mundo e as suas verdades, de forma que o conhecimento se deparava nos mais diversos labirintos. Refletindo daquilo que duvidava, percebeu que o conhecer era mais perfeito do que o duvidar e, se foi possível que chegasse à essa conclusão, concluiu que havia algo mais perfeito que possibilitou à ele tal conhecimento. Conhecimento esse, que só poderia ter sido colocado nas ideias do filósofo por uma natureza que fosse, de fato, perfeita. À essa natureza, Descartes denominou ‘’Deus’’.

E foi assim, defendendo a busca por conhecimentos sólidos embasados na razão e em conceitos concretos e, ao mesmo tempo, considerando uma natureza superior que orienta o nosso pensamento - Deus - que, de forma antagônica, o pensamento cartesiano sustentou suas ideias e proporcionou o advento da evolução da ciência e do homem.

Além disso, assim como Descartes se utilizou do pensamento socrático durante os seus questionamentos, ao negar tudo aquilo que pudesse propiciar dúvidas -‘’só sei que nada sei’’- é fundamental que o mundo contemporâneo se utilize do legado cartesiano, pois muitos dos entraves atuais poderiam ser trabalhados com os conceitos desse filósofo. Em época de tantas diferenças e heterogeneidades, da mesma forma que Descartes concluiu que a fé e a ciência não são opostos, mas se completam, os conflitos e as diferenças da atual conjuntura deveriam seguir essa mesma perspectiva, possibilitando o desenvolvimento não só da ciência, mas também das relações humanas.


"A velocidade é irrelevante quando se vai na direção errada"



Segundo René Descartes, “os que andam muito devagar podem avançar bem mais, se continuarem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam”. É assim, que o filósofo francês, conduz “O Discurso do Método”, orientado pela razão como forma de superar a superstição, a magia e a alquimia na construção do conhecimento.


Para compreender a fundo sua obra é indispensável levar em consideração o contexto histórico no qual ela foi escrita. Um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, onde a ciência e a razão ganhavam força em uma sociedade marcada pelo predomínio da Igreja e a exaltação da fé.


Acreditando ser a razão a única coisa que diferencia homens de animais, Descartes busca verdades e princípios de caráter absoluto e imutável dentro da ciência. Descrente do ensino tradicional, bem como da filosofia baseada na tradição clássica, o filósofo sugere um método quase matemático para conduzir o pensamento humano, acreditando ser este um alicerce firme para a construção de algo sólido. Assim, construir-se-ia tudo, do mais simples ao mais complexo, articulando todas as partes, de forma clara, embasada na razão.


Apesar de sua crítica ao ensino da época, exaltava a aprendizagem das línguas, pois as considerava necessárias ao entendimento dos livros antigos, que eram como conversações com as pessoas mais qualificadas dos outros séculos. Descartes reconhecia assim, a importância da leitura para estimular o espírito, fazer crescer, formar juízo de valor e estimular virtudes. Seu método trouxe inúmeros benefícios para a física, a matemática, e é claro para a filosofia.


Descartes criticava também o conhecimento sobrenatural e duvidava de tudo aquilo que era inculcado pelo hábito. Julgava a dúvida como o princípio fundamental do novo método científico. E em oposição aos outros filósofos, acreditava que a razão era superior aos sentidos na busca pelo conhecimento. Tendo por fundamento o princípio “penso, logo existo”, adotou a clareza como critério de verdade.


Em contraposição à busca do racionalismo como caminho para verdade, segundo Descartes Deus continuava sendo o referencial último do conhecimento, considerado um “ser perfeito”. Assim, caminhando devagar, mas no caminho reto, Descartes lançou as bases do racionalismo, sem romper com a fé cristã, tendo como explicação última do método científico uma fundamentação subjetiva, apoiada em Deus.

O Império do Saber

As idéias teocêntricas e antropocêntricas, comumente analisadas como opostos, formam, na verdade, um elo a partir do Discurso do Método de Descartes. O pensador propõe a soberania do saber, da ciência, do conhecimento, não rejeitando, todavia, a existência de um Deus perfeito.

Para que isso fosse possível, era preciso abolir os pensamentos supersticiosos e mágicos da época, como a Astrologia e a Alquimia. Afirmava que a razão científica era essencial, e que a sua verdade era obtida a partir das dúvidas dos seres humanos, o que alimentaria a sede pelo descobrimento de novos conhecimentos, e tornaria claro, assim, verdadeiro o que há, de fato, os cercando. Adicionalmente, era contrário ao pensamento filosófico, que julgava como verdade o que já havia sido percebido pelos sentidos, se opondo, assim, à existência de Deus.

De fato, Descartes trouxe à tona algumas das formas de percepção vistas até hoje, visto que grande parcela da população acredita fielmente na, hoje, chamada ciência, mas não se desapega à existência de um Deus, não perde a fé, e segue doutrinas religiosas.

Diante de tudo, uma conclusão (aos olhos de Descartes) pode ser tomada: a ciência e seus métodos de busca de conhecimento se fazem indispensáveis, e não podem ser influenciadas por conhecimentos alheios à clareza da verdade ou a crenças religiosas. Contudo, a existência da perfeição, ligada substancialmente a Deus, não deve ser contestada, apesar de os seres humanos tentarem alcançar, sempre, e até hoje, tal feito.

Descartes e seu Método

René Descartes é tido por muitos como o pai do Racionalismo e da Filosofia Moderna. Também matemático e físico, viveu numa época em que a fé era a base do conhecimento. Não satisfeito e descrente com a educação da época, desenvolveu um método próprio para se chegar às verdades que procurava. Partindo do princípio de que pela dúvida se alcançaria o conhecimento, através da razão, desenvolveu estudos em diversos campos que julgava essenciais à vida do homem.
Em seu Discurso do Método, René Descartes vai demonstrando como ia utilizando de forma prática e objetiva (matemática) o seu modo de buscar o conhecimento, através do raciocínio dedutivo. Partiu das dúvidas iniciais sobre a existência do homem e depois, de Deus. "Penso, logo existo" é uma frase célebre de seu trabalho. Marcou de maneira decisiva o caminho que a Ciência adotaria após sua morte.
Em seu trabalho é importante notar que apesar da constatação do homem como corpo e espírito, ele descarta o uso da emoção na concepção do conhecimento. Além disso, o seu método pode ser tido como oposto ao Empirismo, defendido por seu contemporâneo Francis Bacon e que se baseia no raciocínio indutivo. Isso nos leva a perceber que seu método pode fracasssar diante de algumas situações cotidianas. Inclusive o próprio Descartes nos previne em sua obra de que o seu método não é um modelo, que pode ter falhas e isso acaba o eximindo de culpa.
Por fim, embora haja muitas correntes que discutem a produção de conhecimento, o Método ainda hoje é amplamente difundido por conter ricas ideias sobre o bom senso, por exemplo, e sua contribuição para o desenvolvimento da Ciência, a qual denominamos Moderna, é consagrada na História do Homem.