segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"im" - partícula imperativa

Desde os primórdios da História vê-se a tentativa do homem de fazer distinção entre o espaço público e o privado. Já na Grécia Antiga, a divisão se dava entre a polis e a oikia. Nesta, reconhecia-se o governo de um só, era a casa, onde a família vivia em relações baseadas nas diferenças, com a ideia do pater familias e a coação das suas necessidades básicas para viver. Por outro lado, a esfera pública consistia na polis, onde os homens, tendo-se como iguais uns para os outros, eram livres na execução de suas atividades. Nesse contexto, essa era a divisão das esferas pública e privada.

Hoje já não nos bastamos com uma divisão tão conceitual assim; torna-se cada vez mais complicado, nesse contexto de valorização da racionalidade, limitar o que é de domínio de cada uma delas. Por vezes elas se misturam, deliberando sobre assuntos comuns ou invadindo, mesmo que contra o convencional, o espaço da outra. Devido aos excessos, percebidos ou não, cometidos tanto pelos indivíduos em busca de seus interesses privados, quanto do "governo", no anseio pelo predomínio do público, os âmbitos se confundem e os julgamentos são dos mais variados conforme o ângulo da análise ou simplesmente o fato em questão.

Li uma "piada" que dizia que foi feita uma pesquisa em vários países perguntando aos seus governantes qual era a opinião pública a respeito de um determinado tema. Nenhum dos países foi capaz de responder e depois de explicar os motivos de cada um deles para não conseguir fazê-lo, o autor dizia que em Cuba a dificuldade se deu no fato de que lá ninguém sabia o que era "opinião pública". Nessa situação, trata-se opinião pública como a opinião do povo, opinião "geral"(o que já evidencia o problema de variedade semântica dos vocábulos). E no caso, a crítica feita direciona-se à imposição do Estado como ente detentor de um poder excessivo sobre o povo, a ponto de privá-lo de uma opinião própria.

Essa é só uma crítica num caso fictício, mas na vida real não faltam exemplos da hipertrofia do "governo" invadindo o que supostamente deveria estar sob domínio das pessoas. Diversas leis regulando comportamentos familiares, deliberando sobre educação, determinando padrões de conduta, ultrapassam a barreira da busca pela segurança e manutenção da ordem, passando então a atuar como "intrometidas", arrombando a porta de cada casa e "colocando as coisas no lugar devido".

É inegável que em algumas questões, de fato, a esfera pública deve interferir visando melhorias, estabilidade e até mesmo a guarda da vida de algumas pessoas. A limitação das liberdades individuais é processo natural decorrente da vida em sociedade, é uma renúncia coletiva e ao mesmo tempo, individual, em prol da coletividade. Mas até onde o público pode interferir no privado? Há uma grande diferença entre "por ordem" e "IMpor (a sua) ordem".

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