segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Transformação pelo espírito do capitalismo

A revolução de camponeses a operários (fábrica unificada, tecelagem mecanizada), em tais casos, não foi geralmente trazida pelo fluxo de dinheiro novo investido na indústria, mas foi pelo novo espírito, o espírito do moderno capitalismo que fez o trabalho.

Usamos provisoriamente a expressão do espírito do capitalismo (moderno) para designar a atitude que busca o lucro racional e sistematicamente”, designar uma atividade aparentemente direcionada para o lucro em si, como uma vocação para com a qual o indivíduo sinta uma obrigação ética. Este foi o tipo de ideia que determinou o modo de vida dos novos empreendedores, seus fundamentos éticos e justificativas.

Com o surgimento do novo conceito de capitalismo, encontra-se um embate cultural. Dentro desse novo conceito de capitalismo, é possível notar uma economia individualista capitalista, racionalizada com base no rigor do cálculo, dirigida com previsão e cautela para o sucesso econômico almejado, mas que está em agudo contraste com a existência simples do camponês e com a do tradicionalismo privilegiado do artesão corporativo e do capitalismo aventureiro, orientado para a exploração das oportunidades políticas e da especulação irracional, que era marcado pelo antigo conceito de capitalismo.

Esse embate cultural caracteriza-se pela acumulação capitalista que não se vincula à satisfação de necessidades materiais reais: “Sombart, na sua discussão sobre a gênese do capitalismo, fez a distinção entre satisfação das necessidades e aquisição como sendo os dois grandes princípios orientadores da história econômica. No primeiro caso, a obtenção dos bens necessários à satisfação das necessidades pessoais [que se relaciona ao ultrapassado conceito capitalista], e no segundo, a luta para obter lucros sem os limites impostos pelas necessidades, tem sido as finalidades controladoras da forma e da direção da atividade econômica [que se relaciona ao emergente conceito capitalista]”.

Uma marcante característica desse embate cultural é o fato de as estruturas mentais próprias do capitalismo travarem lutas grandiosas para alcançar sua hegemonia. Obstáculos internos são encontrados por toda parte pela adaptação do homem às condições de uma economia burguesa capitalista ordenada. O mais importante oponente contra o qual o espírito do capitalismo, entendido como um padrão de vida definido e que clama por sanções éticas, teve de lutar foi esse tipo de atitude e reação contra as novas situações, que poderemos designar como tradicionalismo. Este é um exemplo do que queremos significar aqui por tradicionalismo: o homem não deseja “naturalmente” ganhar mais e mais dinheiro, mas viver simplesmente como foi acostumado a viver e ganhar o necessário para isso.

A tradição é aquela de se trabalhar de acordo com as necessidades reais: “O ganhar mais e mais dinheiro, combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver é, acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo parece algo transcendental e completamente irracional. O homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais”.

E dessa forma, podemos analisar o embate cultural ocorrido na transformação do próprio conceito de capitalismo.

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