domingo, 14 de agosto de 2011

Portadores dos traços capitalistas

Doenças, boas e más colheitas, fenômenos metereológicos e toda a diversidade de acontecimentos brotavam da vontade divina. Tudo podia ser explicado no simples desejo de Deus por muitas décadas. Mais tarde, o homem "emancipa-se", toma o lugar de sujeito da História e percebe que por si mesmo, com a utilização da razão, é capaz de obter o conhecimento pleno das coisas que o cercam. Porém, mesmo senhor de si e consciente de sua capacidade, torna-se refém novamente, não mais de dogmas religiosos, mas de princípios marxistas. A luta de classes, a mais-valia, a busca incessante do lucro, (personagens principais do pensamento de Marx), calam todas as reflexões, já que as explicações têm como berço o cenário da economia, a realidade criticada ferozmente por Weber. Para ele, é necessário atentar para a complexidade que reveste os acontecimentos (muito mais que meros fragmentos do âmbito econômico).


Weber, em "A ética protestante e o espírito do capitalismo", afirma veementemente, para o espanto de muitos, que "o impulso para o ganho, a persecução do lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro, não tem, em si mesma, nada a ver com o capitalismo". Em sua visão, tais peculiaridades são com sombras que não se separam da humanidade exposta ao sol da História. Portanto, "pode-se dizer que tem sido comum à toda sorte e condição humanas em todos os tempos e em todos os países da Terra, sempre que se tenha apresentado a possibilidade objetiva para tanto". O capitalismo, que para tantos roubou recentemente o titulo de "mal do século" da Aids, depressão e outros males, é tratado por Weber como um meio de racionalizar os traços que sempre estiveram presentes.

Seria a ética protestante a estufa que proporcionou ramos verdes e vistosos ao capitalismo? Seria o catolicismo uma mordaça que sufocava seus gritos? Os dogmas religiosos, verdadeiros grilhões, seriam capazes de conter a busca pelo lucro e o espírito competitivo? Não se necessita de princípios religiosos para explicitar o que é inerente a cada um de nós. Todos, em maior ou menor grau, guardam um pouco do capitalismo dentro de si. " O homem não deseja 'naturalmente' ganhar mais e mais dinheiro, mas viver simplesmente como foi acostumado a viver e ganhar o necessário para isso". Será isso mesmo que podemos notar quando trabalhamos cada vez mais e poupamos para a aquisição de mais e mais bens? Quando sacrificamos os finais de semana e convívio familiar em nome de horas extras e para conquistar o título de "funcionário do mês"? Quando sentimos a necessidade imensa, que vai além do nosso controle racional, de trocar aparelhos celulares e computadores recém-comprados por mais conforto ou aplicativos mais modernos? Somos (católicos, protestantes e seguidores das demais religiões) portadores dos traços capitalistas em nossos hábitos, costumes e essência. Não somos apenas parafusos de tal máquina, mas o capitalismo é também parte de cada um de nós.

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