sábado, 14 de maio de 2011

Trabalho solidário?

No seio de uma sociedade mais bem desenvolvida coexistem indivíduos que empregam sua capacidade de trabalho em ramos diversos, mas cada um deles, quase sempre, com foco em uma área específica. Uns são marceneiros, outros ferreiros, alguns, jardineiros... Quanto a isso, a maioria absoluta delas demonstra haver aquilo que Durkheim chama de divisão do trabalho. Pelo que se nota que essa estrutura gera interdependência entre indivíduos que de outro modo poderiam viver em isolamento, subsistindo apenas de seu esforço mesmo.
Daí, imediatamente podemos passar à discussão mais precisa de qual é a função da divisão do trabalho. Nos termos de Durkheim. Para ele, a função seria suprir uma necessidade de cunho social, a qual seria algo como manter coeso um grupo, a partir da distribuição diversificada de postos de trabalho a cada um de seus membros. Nesse sentido, diz-se que essa divisão cria uma espécie de solidariedade entre os indivíduos.
Émile justifica essa idéia da seguinte forma: assim como os semelhantes se atraem, também os diferentes se atraem, mas apenas quando entre eles ocorre complementaridade. Os diferentes buscam-se um ao outro para satisfazerem o desejo de possuir algo que não podem ter por conta própria. Ora, está claro que numa sociedade onde um homem não pode ser auto-suficiente num sentido mais amplo, como alguém capaz de produzir por si mesmo cada um dos artefatos já inventados pela raça humana, assim como os alimentos que desejar, precipitar-se-à na busca por eles na capacidade de homens outros.
Contudo, não é tão razoável assim supor que alguém se disporia muito alegremente a uma jornada exaustiva de trabalho, em condições um tanto quanto precárias, numa linha de produção por exemplo, cuidando da fabricação de salsichas, enquanto seu compatriota senta-se num gabinete esculpido em mogno e adornado por peças de ouro. E o que se retrata é um cenário ainda bem feliz perto do que de fato existe por aí...
Agora, se nos basearmos no raciocínio supracitado, chega a ser engraçado dizer que existe solidariedade entre as pessoas componentes de determinado sistema econômico. De fato, o que parece existir é um consenso silencioso entre aqueles que sofrem porque não dispõe de uma consciência alerta o suficiente. Talvez permanecem calados, solidários, porque ainda não se deram conta da injustiça da qual são vítimas. E também podem não ter percebido o quão são capazes de gerar uma espécie de reviravolta em favor de si mesmos. São o grosso da população, nossos operários...
Como podem ser solidários para com o sistema econômico do qual fazem parte, se é esse o sistema que os suga a vitalidade, deturpa seus sentidos, devora seus sonhos? Como poderiam eles aquiescer em continuar nessa situação, se ao menos pudessem formar uma unidade de pensamento global, isto é, compartilhada por todos, que tivesse como idéia muito clara essa usurpação da qual são o alvo? É estranho pensar que as pessoas gostem de viver numa sociedade altamente competitiva, apressada, mentirosa. Asfixiante. Resignam-se elas a isso? É claro que sim. Mas apenas isso, resignam-se. É deprimente pensar que sejam solidárias a isso. Solidárias ou apenas resignadas, morrem todos os dias, e não sabem disso. Porque morre aquele que decide não “viver a vida”.
E não bastante o que até aqui se disse, tome-se outra idéia de Durkheim: a arte “não tem objetivo”. Ora, então agora consagremos o primado da ciência e da trabalho apenas. E junto com isso também podemos encomendar um incinerador tamanho TERRA para acabar com todo mundo logo. Por acaso não são as artes a expressão maior do que há de belo num homem? Não consagram elas toda a fineza do espírito? Elas são a forma da emoção. E parece que todos, em algum momento, sentem necessidade de dar forma ao que sente. Talvez as artes sejam algo como uma válvula de escape para os anseios humanos, os quais derivam das emoções. E não se precisa dizer do que é capaz um homem o qual se torna alucinado com suas próprias emoções. Deixe que extravase. Que a arte impere. Qual o problema se um artista por vezes é um ser muito mais emocional do que racional? Modifiquemos a pergunta: o que seria do mundo se fôssemos todos friamente racionais? Não parece que seria... Agradável. Dá para se entender que o objetivo da arte é impedir impulsos destrutivos, ou algo assim. Porque emoções em demasia, bem concentradas e mal controladas costumam resultar nisso.





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