domingo, 1 de maio de 2011

A Teoria Positivista e sua Aplicação Prática

Ao analisarmos a obra “Curso de Filosofia Positiva”, de Augusto Comte, conseguimos compreender a base teórica de suas ideias. Um dos eixos centrais de sua teoria é a divisão do conhecimento humano em três Estágios ou Estados principais. O primeiro deles recebe o nome de Teológico; o segundo é chamado de Metafísico; e o terceiro é conhecido como Positivo.

O primeiro Estágio está calcado na busca do homem por sua origem e por seu destino. O ser humano está interessado em saber “de onde veio” e “ para onde vai”. Por isso, ele acredita no sobrenatural e acha que os “deuses” são os responsáveis por guiar a sua vida na Terra. Temos, portanto, neste Estado, as superstições e os misticismos.

O segundo Estágio é considerado um Estado intermediário entre o primeiro e o terceiro. O homem ainda quer entender a sua origem, mas não de maneira tão simplista como no Estágio anterior. Ele já busca analisar o motivo, a razão presente naquilo que o cerca. Assim, “deuses” não são mais suficientes para explicar a realidade humana, surgindo, para isto, entidades abstratas,como o “Povo” ou o “Éter”, que passam a ser considerados, por alguns, os responsáveis pelos fenômenos presentes na Humanidade.

O terceiro Estágio, de acordo com Comte, é o mais completo e reflete o amadurecimento da sociedade. Nele, o homem não busca mais somente o “porquê” dos fenômenos. Ele quer entender o “como”, a maneira como estes se manifestam. E é neste Estado que surgem as ideias positivistas.

O Positivismo foi criado por Augusto Comte no decorrer do século XIX. Retomando algumas ideias defendidas por Descartes e por Bacon, Comte acreditava que seus ideais eram os únicos que poderiam livrar os homens do “caos intelectual” que os envolviam, reestabelecendo a ordem, regulando a sociedade e promovendo o progresso. Augusto prega, entre outras coisas, as pesquisas baseadas no concreto e não nas abstrações, sendo, também, um defensor da subordinação da imaginação àquilo que é observável. Além do mais, ele ressalta a relevância da associação da teoria à prática, valorizando, por isso, profissionais como os engenheiros. Devemos considerar, por fim, a importância dada à união das várias ciências para a construção da filosofia positivista. Para Comte, o conhecimento deveria ser visto como um todo e não de forma fragmentária.

Diante dessa análise da teoria “comteniana”, fica mais fácil compreendermos as aplicações práticas do Positivismo, descritas em “Discurso sobre o Espírito Positivo”, outra obra de Augusto. Nesta obra, o autor preocupa-se, principalmente, com a educação, com o poder e com a solidariedade.

Em relação à educação, o filósofo acredita que as classes mais favorecidas têm um conhecimento muito baseado na metafísica e na literatura, o que confere certa superficialidade à sua educação. Ele acredita que uma educação de qualidade, ao contrário de aparências, deve ensinar a realidade e deve preparar, no caso dos mais abastados, pessoas aptas a controlar o poder. Este tipo de formação, para o autor, só seria alcançado com o Positivismo. Comte também defende a extensão do ensino à classe trabalhadora. Para ele, as ideias positivistas fariam os menos favorecidos entenderem e aceitarem o seu papel na sociedade, ao contrário do conhecimento metafísico, que acabaria levando-os ao materialismo e à ambição.

Já em relação ao poder, o pensador acredita que o uso da metafísica, discutindo alguns direitos do proletariado, atrai muito pouco as massas. Isso ocorre porque, muitas vezes, os direitos que são discutidos não refletem os problemas reais dos trabalhadores. Um governo eficiente, para ele, deveria agir de acordo com os ideais positivistas: não deveria ficar discutindo direitos demasiadamente, como fazem aqueles que se baseiam na metafísica, mas deveria realizar medidas públicas concretas, visando à promoção do bem-estar social. Assim, por exemplo, atualmente, não tem muito efeito prático ficar discutindo igualdade salarial para todos os funcionários públicos, uma vez que a maioria dos trabalhadores nem tem o conhecimento básico para tal discussão. É mais eficiente criar programas assistencialistas, como o “Bolsa Família”.

Por fim, em relação à solidariedade, Augusto menciona que, ao longo do tempo, os valores religiosos acabaram criando um conjunto de regras morais em nosso meio social. Estas regras religiosas acabaram propagando a ideia da salvação individual. No entanto, de acordo com Comte, esta ideia não se mostra muito correta. Segundo o autor, em nossa sociedade, a solidariedade deveria superar o individualismo. O homem deveria buscar a felicidade como um bem público e não como um bem individual, pensando na salvação de todos e não somente na sua própria salvação.

E é diante dessa análise dos princípios positivistas que conseguimos perceber o quanto fomos influenciados pelas ideias “comtenianas” no decorrer do tempo e o quanto ainda o somos. A própria bandeira do Brasil traz o lema “Ordem e Progresso”, um lema marcadamente positivista. E o curso de Direito também possui as ideias positivistas como uma de suas vertentes de análise e de pesquisa. Assim, conhecer Comte acaba sendo fundamental para uma melhor compreensão de nossa realidade atual.

Retirado de: http://sociologianomundo.blogspot.com/2009_05_01_archive.html em 01/05/2011, às 10h58min.

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