domingo, 1 de maio de 2011

A exatidão das ciências humanas

"Amor como princípio e ordem como base; o progresso como meta". Esse era o lema de Augusto Comte, o grande representante do positivismo, que abrange sociologia, filosofia e política.

Unindo o racionalismo cartesiano ao empirismo de Bacon ("(...) somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados." - p. 5), propõem-se às ciências sociais critérios rigorosos como os utilizados nas ciências exatas.

Passando pelas etapas do pensamento, desde o teológico, essencial para o início das indagações e um ser abstrato a quem se possa atribuir explicações não encontradas, passando pela metafísica definida como intermédio para evoluirmos ao positivismo. Assim, como vimos a física do filme Ponto de Mutação criticando o maquinicismo de Descartes e a necessidade de conseguir juntar os conhecimentos para ter uma visão geral, no texto lido também defende-se a “(...) ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais, (...)” (p. 4).

Justamente por defender os critérios das ciências exatas, são delas muitos dos exemplos utilizados para a abordar o novo sistema proposto, o que facililta o entendimento. Tomando a gravitação e o processo de atração, a filosofia positiva a determina, enumera-a, mas não se preocupa com a causa, muito valorizada pelos métodos anteriores, porém, que não chegava a conclusões e nem conseguia sustentar-se em concretudes ou algum meio de provar.

Uma grande vantagem desse método é o princípio acumulativo, pois com critérios estabelecidos, o conhecimento poderia se desenvolver sem que fosse necessário descartar o que se sabia anteriormente (o que ele chama de influência deletéria). Posteriormente, é defendida também a especialização, aprofundando o conhecimento enquanto ainda há quem se ocupe de manter o conhecimento geral e organizá-lo.

Sobre isso, destaca-se o trecho “(...), a divisão do trabalho intelectual, aperfeiçoada progressivamente, é um dos atributos característicos mais importantes da filosofia positivista.” (p. 11) e depois a necessidade de cientistas que estivessem preparados para a eduação conveniente.

Voltando à divisão, apesar de enciclopédias lembrarem os editores Diderot e D’Alembert; Comte define dois principais meios de organização: histórico (na ordem das descobertas - incoveniente pela da demora do aprendizado; vantajoso por demonstrar os caminhos, conhecimentos intermediários e como pensar propriamente) e dogmático (para as ciências mais desenvolvidas, praticamente o que estudamos hoje - sem o percurso histórico, vai-se diretamente ao conhecimento último e pronto a ser aplicado, ou, evoluído). Outro contra deste meio, é a crença do autor de não se ter noção total de uma matéria sem saber sua história e a nova defesa do autor a respeito da interdependência das matérias, que muitas vezes se misturam para compreensão de fatos. Em representação a estes dois argumentos, nas páginas 35 e 36 encontra-se que: "(...) o estudo racional de cada ciência fundamental, exigindo a cultura prévia de todas aquelas que a precedem em nossa hierarquia enciclopédica, não pode fazer progressos reais e tomar seu verdadeiro caráter a não ser depois dum grande desenvolvimento das ciências anteriores, relativas a fenômenos mais gerais, mais abstratos, menos complicados e independentes dos outros.".

Essa separação dualmente fria faz-nos levar à conclusão de que os métodos de classificação sempre serão falhos. Um meio mais geral de evitar tantos problemas é começar pelas partes gerais em direção às específicas, assim como "(...) estudar os fenômenos fisioóligos depois dos corpos inorgânicos" (p. 31) demonstra. E hoje esta atitude é percebida claramente, com relação à Química, ao ensinar-se primeiro a parte inorgânica, a base, para depois iniciar a parte inorgânica.

Colocando a matemática no topo da filosofia positiva por "(...) constituir o verdadeiro ponto de partida de toda educação científica racional (...)" (p. 39), a chamada física social fica por último na lista a ser estudada por relacionar todas as anteriores e a de principal matéria de interesse.


Na prática...

Em um segundo momento, é necessário considerar a respeito da implantação do método. É quando cita-se a frase mais famosa associada ao assunto, lema presente na bandeira nacional: Ordem e Progresso. Isto porque no caos, não há como priorizar o estudo , seja em busca de conhecimento ou de soluções à sociedade. Portanto, é necessário a ordem para que haja o progresso, entrando em ação o sociólogo com o dever de diagnosticar os desvios da ordem para permitir o progresso.

A principal barreira para o estabelecimento do chamado espírito positivista é a moral religiosa. Quanto maior for o tempo de influência desta, maior seria possível perceber o retrocesso ou a defasagem no avanço. O positivismo propõe uma renovação da mentalidade.

Além disso, o ensino pode ser dividido em duas vertentes: os que se dedicam ao conhecimento em si, e portanto ligados à metafísica, e aqueles que colocam essas descobertas em prática, colocando a utilidade do que se sabe acima da "estética", ou seja, conhecer por conhecer. Assim podemos explicar o surgimento das escolas técnicas. Sabendo que não só de filósofos e de teóricos um país se forma, formam-se com qualidade trabalhadores para colocarem os planos em ação.

A respeito da divulgação e a partir da separação feita, Comte admite que os teóricos são os que podem apresentar maior resistência à imposição do novo método, já que estes encontram-se doutrinados pela via clássica. Por outro lado, aqueles que não tiveram tanto acesso à filosofia e outras matérias quanto os estudiosos, essa "tábua rasa" seria mais receptiva à nova instrução.

Outro ponto essencial a se considerar é a importância de colocar a felicidade social acima da felicidade pessoal, ao contrário do que prega a moral religiosa com a salvação individual. Daí a necessidade da solidariedade e de certas concessões em prol do bem estar público. Para Comte, cada um precisaria contentar-se com o seu trabalho, entretanto, orgulhar-se dele e perceber seu papel constituinte da sociedade. Ele defende que o operário, justamente por trabalhar mais próximo à natureza, teria maior facilidade de compreensão do seu papel do que o metafísico.

Afinal, essa utilização dos métodos exatos nas ciências humanas tem por fim sua evolução, melhoria no sistema de ensino e, quando aplicado às pessoas, busca a felicidade de todos quando cada um faz sua parte na formação deste imenso corpo social.

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