domingo, 8 de maio de 2011

Coercitividade vs Liberdade Individual

Émile Durkheim, considerado o fundador da sociologia moderna, propõe um estudo sociológico fundamentado em um método próprio. Seu método consiste, basicamente, de dois pilares essenciais: observar e analisar os fatos sociais como "coisas"; reconhecê-los e compreendê-los em razão da coerção. Mas, qual o significado da proposta de Durkheim?

Antes de tudo, é preciso que se esclareça o que é um fato social. Dentro de uma sociedade, existem fenômenos de características únicas que consistem em fatos sociais. São aqueles constituídos por maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotados de um poder de coerção, impostos, de certa forma, pelas regras sociais. Por exemplo, a moda, os gostos, os códigos de comportamento em geral etc. Esta imposição pode ser indireta, é exercida pela consciência pública que, pela vigilância constante sobre os atos dos cidadãos, reprime todos os atos que a ofende, fazendo com que os indivíduos tentem evitá-los ou repará-los.

Para a análise desses fatos sociais, Durkheim propõe um distanciamento, de modo que a metafísica não afete os resultados de tal análise. Ou seja, sua proposta é de que os fatos sociais sejam vistos como "coisas", sem que se projetem sobre eles qualquer tipo de ideologia ou preconceitos. Desse modo, a verdade científica não seria obscurecida pelas paixões humanas, que tanto influenciam no pensar dos homens.



Esse distanciamento e negação das pré-noções remetem aos "ídolos da mente", descritos por Bacon em sua obra "Novum Organum". Em suma, Durkheim defende a análise fria das "coisas", ou seja, dos fatos sociais, antes da formulação de ideias sobre elas.

O conceito de fato social como "coisa" já era uma proposta dada por Augusto Comte. Há, portanto, clara intertextualidade entre as propostas de ambos os sociólogos. No entanto, Durkheim critica Comte em virtude da valorização que este dá à sua ideia sobre a História, e aos fatos que dela fazem parte, ao invés de valorizar a História em si. Comte não faz uma análise fria dos fatos passados, como propõe Durkheim, mas atribui a eles uma noção metafísica, concebendo o progresso como o sentido de todos os acontecimentos.

Quanto ao segundo pilar do método durkheimniano, reconhecer e compreender os fatos sociais em razão da coerção, deve-se apreender que os códigos de conduta que regem os fatos sociais são de intuito coercitivo. Por exemplo, o papel da Educação é moldar os seres sociais para que sigam um padrão de comportamento, sentimentos e ideias semelhantes, que não fujam ao previsto como "saudável" para o corpo social. A coercitividade impõe um comportamento determinado que todos são obrigados a seguir, independentemente de sua vontade.

Mas, o abandono da individualidade é o fator chave para a manutenção do "bem-estar social"? Teriam que todos os cidadãos abolirem de suas vontades e ambições próprias para viverem na sociedade ideal? São questionamentos que podem ser extraídos do conceito de coercitividade contido na proposta durkheimniana.

Enfim, Durkheim acredita que seu método é o melhor caminho para se compreender o universo social. Sua proposta é de extrema relevância nos estudos sociológicos modernos e contemporâneos, tendo ela influenciado muitos pensadores da posterioridade.

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